Biblioteca de Brasov é o sexto volume de Enciclopédia da Estória Universal – um conjunto de livros da autoria de Afonso Cruz em que a(s) história(s) vai sendo apresentada como entradas numa enciclopédia por ordem alfabética. É comum encontrarmos referências a histórias de outros livros (mesmo que não sejam da enciclopédia) ou a entradas anteriores, fazendo com que cada livro seja um jogo de memória e de ocorrências interligadas.
Em Nova Iorque, os fumadores só podem fumar se estiverem três metros afastados das entradas dos edifícios, para que as pessoas que saem desses prédios possam respirar os fumos dos escapes dos carros em toda a sua pureza.
Entre os pedaços interligados de uma história encontramos frases como esta, de perspectiva irónica sob algum aspecto da sociedade humana. São elementos soltos que nos fazem parar para pensar. No caso deste volume, para além destas frases encontramos uma longa menção a cogumelos, com entradas de cariz cultural que explicam o surgir de várias lendas e criaturas sobrenaturais (como o Pai Natal e as suas renas), ou uma história centrada no poder venenoso dos cogumelos.
A verdade é que a alucinação deste cogumelo gera dois tipos de sensações facilmente identificáveis: a sensação de que somos muito grandes ou muito pequeninos – o que explica as visões com duendes e gigantes – e uma grande sensação de leveza ou de voo. daí o trenó voador do Pai Natal e os seus duendes.
Ao longo do volume encontramos, também, várias referências a outras obras e autores, desde Monterroso a Kafka, neste caso como forma de apresentar o conceito de identidade, e de que forma se afasta o «eu» de um número num cartão:
Uma pessoa poderia acordar transformada em barata checa, que continuava a ser ela, olhava-se ao espelho e, apesar de estar completamente diferente, com antenas e exosqueleto quitinoso, continuaria a dizer «eu».
Apesar de continuar a achar que o primeiro volume da Enciclopédia foi o meu favorito (mais coeso e com entradas mais interligadas) este volume volta a subir o nível em relação a outros que achei demasiado disconexos. Biblioteca de Brasov foi publicado em Portugal pela Alfaguara.
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