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Aqui há uns meses rejubilei enormemente com a descoberta de The Carpet Makers por Andreas Eschbach desconhecendo que, cerca de 10 anos antes, tinha sido publicada esta novela, The Mill de Paul di Filippo. Gostei de tal forma desta história que decidi comentá-la isoladamente, apesar de ter lido a sua re-edição na Lighstspeed Magazine de Maio.

A premissa é semelhante à do livro de Eschbach. A economia do mundo descrito nesta história assenta na produção de um bem que é usado num império intergaláctico. Se em The Carpet Makers este império é controlado por um imperador que usa o produto numa loucura desmedida, aqui não sabemos muito bem o que se esconde por detrás deste império porque a história, ao invés de constituir um mosaico como em The Carpet Makers, é centrada numa única família que trabalha na confecção do tal produto – neste caso, tecidos.

O Factor é a entidade que paga pelos tecidos produzidos influenciando, desta forma toda a economia do planeta. A sua palavra constitui uma religião que mantém estagnada quer a tecnologia, quer a mentalidade. Claro que nem todos baixam a cabeça a esta realidade. Alguns, como o pai de Charlie, vêem o perpetuar da tradição como uma forma de escravidão – o Factor poderá tê-los elevado da Idade da pedra, mas não partilha com eles o conhecimento necessário para que continuem a evoluir, mantendo-os presos à produção de um produto.

A indústria está separada em complexos, e a cada complexo de produção corresponde uma aldeia. Entre elas organizam-se jogos que visam manter uma competição saudável que visa melhorar quer a produção, quer a qualidade ou variedade dos produtos produzidos que será analisada pelo Factor numa festa anual, onde deixa instruções para o ano seguinte – como a produção de um novo complexo.

Mas Charlie, que atingiu agora a idade para começar a trabalhar, pouco ou nada quer saber do discurso do pai, considerado quase um herege. Trabalhador dedicado, sobre rapidamente na hierarquia, assumindo responsabilidades cada vez maiores.

Mas não se julgue que a história é centrada nestes temas de forma tão directa – a história centra-se sobretudo em pessoas, nas expectativas de Charlie em se tornar um trabalhador (ou seja, quase um adulto), na adolescência da irmã que a faz cair nos braços de um malandro ou no gestor que tem elevadas expectativas para o futuro daquele complexo.

É de forma indirecta que vamos percebendo como funciona este mundo e que vamos percebendo os argumentos do pai de Charlie. Tecido de forma soberba, desenvolve-se atempadamente, com um final que consegue resolver a história sem a descartar de forma abrupta. As personagens são interessantes e vamos sentindo simpatia pelos vários pontos de vista, o que torna o final ainda mais determinante.