The Nightmare Factory é originalmente uma colecção de contos de Thomas Ligotti, um dos autores mais referenciados nos géneros de ficção Weird e de horror, com influências óbvias de Lovecraft e Edgar Allan Poe, onde se destaca o terror psicológico em detrimento da violência física.
Em dois volumes de banda desenhada são adaptados alguns destes contos. As histórias originais são de Ligotti, mas a adaptação para banda desenhada foi realizada por Stuart Moore e Joe Harris na componente narrativa e por Colleen Doran, Lee Loughridge, Ben Templesmith, Ted McKeever, Chris Chuckry e Michael Gaydos na arte. O resultado é um bom e diversificado conjunto de histórias.
A primeira história, The Last Feast of Harlequin, foi dedicadao por Thomas Ligotti a Lovecraft contendo óbvias referências a este escritor. A história começa com uma simples investigação por um antropologista a um pequeno festival de palhaços. Deslocando-se à vila descobre um ambiente soturno e deprimente, onde não faltam as donzelas há muito desaparecidas e um estranho encontro com um conhecido académico, também julgado desaparecido.
Em torno do festival de palhaços existirá um ambiente deprimente na vila que atingirá o auge antes do festival, para ser expiado durante as festividades. Tendo esta descrição do ambiente na vila, o antropologista julga escapar a este estado de espírito viajando apenas na véspera para o local – engana-se. Todo este gradiente pesado de sentimentos será sentido durante a viagem. O que descobre é um festival de palhaços que integra, sem compreender antecipadamente a cumplicidade local em torno do evento.
Em Dream of a Mannikin o pesadelo começa quando uma paciente descreve ao psicólogo um sonho recorrente em que despe e veste manequins numa profissão que terá apenas quando dorme. Ainda dentro do sonho retorna a casa para sonhar com o manequins em que trabalha em sonho. Numa história voltada do avesso em que se duvida do que é real, o que será um sonho dentro de um sonho, quando à nossa volta surgem indícios desse sonho? Utilizando a possibilidade de sugestão hipnótica para suavizar a fronteira da realidade, é um interessante conto de terror psicológico em que o próprio cérebro se torna uma prisão.
Deambulando novamente sobre a fronteira do que é real e do que pode ser percepcionado, neste caso não por sugestão, mas por doença psicológica, Dr. Locrian’s Asylum descreve a influência que um asilo tem sobre uma vila, décadas depois de ter sido encerrado. É que o Dr. Locrian tinha uma perspectiva peculiar sobre as doenças psicológicas, encarando-as não como algo a ser curado, mas como uma manifestação do sobrenatural.
Em Teatro Grottesco (que dá nome a uma colectânea de contos de Thomas Ligotti) explora-se a relação do artista com a decadência – até onde poderá ocorrer esse declínio no que é oculto até que o artista se perca mentalmente?
O terror não precisa de ser espampanante para causar impacto – nestes contos de horror adaptados para banda desenhada utilizam-se sobretudo as nuances psicológicas, o terror da expectativa, da depressão e das fronteiras difusas da realidade que causam a incerteza e a loucura.
Ainda que possam existir monstros nalgumas histórias, é sobretudo o precipício mental que conduz o conto. O ambiente é, em todos, pesado, característica que é explorada pelos vários artistas, em estilos que vão sendo diferentes de conto para conto mas que funcionam bastante bem. Antes de cada conto encontramos uma pequena introdução, referindo influências ou ideias.