Ler uma adaptação para banda desenhada sem ler o livro original tem vantagens e desvantagens. Se por um lado recordamos a história original e a utilizamos como bengala, e podemos fazer uma crítica comparativa, ao se ler primeiro uma adaptação percebemos se esta se aguenta bem sozinha, sem outros suportes. Como é este o caso.
Afirma Pereira decorre durante o Estado Novo – e se a censura e a repressão passaram despercebidos a alguns, Pereira quase poderia ter sido um desses, não fosse um dia, na sua profissão de jornalista ter pensado em contratar um ajudante para o ajudar a escrever os textos literários.
Texto após texto, Pereira percebe que o trabalho que recebe do jovem não é publicável, pagando, mesmo assim, ao jovem revolucionário com ideias avançadas sobre alguns escritores. Lentamente, Pereira sente-se cada vez mais incomodado, sem reconhecer, em consciência, o motivo deste incómodo.
Preso às memórias de um passado distante, que quase o deixa impassível quanto ao que o rodeia, Pereira começa a reconhecer as pequenas notas políticas no que o rodeia, tanto no jornal, como nas ruas por onde antes passava inocente. Reconhece, também, que o enfrentar desta situação tem um custo elevado.
Afirma Pereira é o despertar da consciência política de um homem que, até então tinha vivido demasiado voltado para si mesmo e preso no passado. Neste acordar, quase forçado por novas empatias, não se consegue remediar totalmente pela anterior apatia, mas tenta, enfrentando as consequências.
Afirma Pereira foi publicado pela G FLoy. O autor esteve recentemente em Portugal para uma série de autógrafos e sessões de apresentação a convite da editora.
A estética está deliciosa. Fiquei com vontade de ler.