Arkwright é uma Space Opera de exploração do espaço, com viagens espaciais e  colonização de outros planetas ao longo de várias gerações – mas o que distingue Arkwright é ser isto tudo, mas decorrer, sobretudo, na Terra.

A história começa com um autor de ficção científica – um autor que começa a escrever enquanto jovem e que consegue o feito de ser um dos autores mais conhecidos e reconhecidos do género! Uma lenda com uma série bestseller que move milhares de fãs por todo o mundo! Aquando da sua morte cabe à neta descobrir a peculiar história familiar que envolve os grandes amigos do avô que mal conheceu, bem como descobrir os planos do avô para a imensa fortuna que deixa a uma  associação com o seu nome – construir uma nave espacial que permita, à humanidade, colonizar outro planeta!

Vamos, assim, assistindo ao desenvolvimento da associação, ao longo de várias gerações, que permite que tal objectivo seja necessário. Realizam-se grandes investimentos em empresas que desenvolvem tecnologias que poderão vir a ser importantes na capacitação de tal naves, ou participa-se em campanhas políticas que possam facilitar a aprovação de determinadas leis – as formas de agir da associação são várias e tendo como objectivo um único objectivo.

Após algumas gerações a construção da nave é tecnológica e economicamente possível, levando a que várias gerações se unam com este único objectivo. Seguem-se as manifestações de fundamentalistas religiosos, bem como uma grande exposição à imprensa. Nada que não seja inesperado. Mas o que é interessante neste empreendimento é percebemos a forma como se resolvem alguns problemas da exploração espacial – é difícil o transporte de humanos pela galáxia, bem como garantir que são viáveis no planeta destino, tanto por conta da atmosfera como da diferente gravidade ou geografia.

Como resolver estes problemas? Transportar apenas óvulos e esperma que serão usados para, no destino, produzir os próximos seres humanos. Mas tal não resolve possíveis problemas de adaptação mas… a engenharia genética já se encontra suficientemente avançada para tal ser uma possibilidade a ter em conta.

Imagem retirada da página oficial do autor

Gostei da forma científica como resolvem a colonização de outros planetas e, sobretudo, da última parte em que nos mostram o mundo resultante. Neste, achei peculiarmente interessante como o autor mostra a tendência para o surgir de mitos e de religiosidade, levando a comunidades fechadas em ideias e em avanços tecnológicos.

Mas nem tudo é bom neste livro. Ao longo de várias páginas vamos conhecendo superficialmente cada uma das gerações, mas só o suficiente para justificar o próximo casamento e a produção da descendência. A forma como as pessoas se conhecem e acabam por se relacionar, dado o excessivo foco no momento, aparece praticamente descontextualizado  e, consequentemente, forçado.

Ainda, geração após geração, décadas após décadas, os relacionamentos heterosexuais são constantes e clássicos, tradicionais na forma como se quebram casamentos, com homens a fugir de casa com a amante, ou representando as mulheres como neuróticas e psicologicamente instáveis. As mulheres abdicam constantemente das carreiras e apaixonam-se pela segurança máscula dos quase desconhecidos, mesmo que não consigam ter grandes conversas com eles.

Em tom de conclusão, é uma leitura bastante interessante, com elementos bastante engraçados na forma como retrata o autor de ficção científica que sonhou com a exploração de outros planetas pela humanidade, ou na forma como retrata o fandom, as guerras entre estilos de autores e o mundo da publicação. As soluções encontradas para a concretização do objectivo também são bastante diferentes das tradicionais, mais terra à terra do que é usual e traçando um caminho de possibilidades interessante. A civilização que se formou noutro planeta adquire, também, aspectos interessantes que retomam o interesse na leitura. Diria que, com todos estes elementos positivos, é pena que o autor não tenha trabalhado de melhor forma a sucessão entre gerações e os relacionamentos entre personagens.