O Jogador de Xadrez é a adaptação do romance, de mesmo título de Stefan Zweig. Não li o livro (ainda) e portanto fui surpreendida pela banda desenhada. O tema da história é simples e roda em torno de um jogador de xadrez. Mas se esperamos que a história se centre no maior jogador de xadrez, um imbatível mas inculto jovem que vence qualquer jogo, somos rapidamente desenganados.
O campeão do mundo encontra-se a bordo de um paquete, reconhecido pelo narrador da história que logo reúne uma série de jogadores amadores que o desafiam para um jogo. Todos contra o campeão do mundo. Uma perspectiva engraçada e aliciante, uma tentativa de quebrar a monotomia da viagem e de aumentar as glórias pessoais. Após as primeiras jogadas, destaca-se, entre o grupo de amadores, um homem cujo intelecto parece competir com o do campeão, referindo jogadas que deixam o campeão surpreso.
Este homem misterioso não só esconde um enorme talento no xadrez, como um passado pesado que liga a prática xadrez a eventos psicologicamente marcantes em que foi capturado e mantido cativo por nazis. Não o esperaram torturas físicas, antes psicológicas, das quais ele tenta fugir através de uma prática que lhe estimule o cérebro.
Utilizando elementos artísticos de pintores famosos do fim do século XIX ou início do XX (que a sinopse da editora identifica como Klimt ou Schiele) esta banda desenhada destaca-se pelo aspecto gráfico – que inicialmente me era pouco atractivo mas que reflecte bem o sentimento da história e que se torna, com a leitura, bastante relevante.
De contornos difusos e com grande foco nas expressões faciais e posturas corporais, de ambiente soturno e elementos geométricos que dão contornos relevantes na exploração de questões psicológicas, O Jogador de Xadrez tornou-se inesperadamente num dos volumes preferidos desta colecção Novela Gráfica.
Se julgam, pelo tema, que a história será linear ou, até aborrecida, a criação de tensão em torno do jogo e na forma como os jogadores se defrontam, transporta o jogo para outra dimensão – o foco deixa de estar nas jogadas, e passa ao passado de cada personagem que lhe permitiu chegar onde se encontra, confrontando-se a curta história do campeão, com a traumática história de um anónimo que se lhe iguala.
O Jogador de Xadrez foi publicado pela Levoir em parceria com o jornal Público.