Eis um duo curioso. Se a leitura do primeiro livro, No Caderno  de Tangerina nos faz pensar que estamos perante uma engraçada leitura juvenil, com detalhes semelhantes a outras aventuras de crianças que envolvem monstros e projecções monstruosas que resultam de elementos no seu quotidiano, o segundo livro, Tangerina faz-nos repensar o que lemos no primeiro e perceber que à mesma história podem ser dadas interpretações diferentes consoante os detalhes que nos são mostrados – e que, neste caso, a história pode ter uma versão bastante mais monstruosa do que inicialmente nos parece.

Os verdadeiros monstros andam entre nós, percepcionados apenos por poucos. Para os restantes serão pessoas normais, senão exemplares. No primeiro livro, No Caderno de Tangerina, uma rapariga passa as aulas a desenhar um monstro que terá escapado dos seus sonhos – um monstro com o qual terá vários encontros tenebrosos, encontros estes onde, por vezes, também estará presente o seu colega de carteira, um rapaz que, curioso, se aproxima de Tangerina.

Tangerina, uma rapariga com alguns problemas, mostra episódios agressivos para com este rapaz e uma dualidade de comportamentos que a levam a ser percepcionada de determinada forma pelo próprio leitor (e que a autora facilita pela forma como dispõe os acontecimentos e pela forma como mostra, apenas, alguns detalhes). Já no segundo volume, o acrescentar de mais alguns episódios (na prática de alguns vinhetas) leva-nos a repensar as nossas percepções e interpretações do primeiro e a relê-lo.

Isoladamente, o primeiro volume é engraçado. De leitura rápida apresenta a história da nova aluna da turma, Tangerina, que vai passar pelos óbvios problemas de integração. Não é, assim, de estranhar que a vejamos afastada dos restantes colegas, concentrada nos seus desenhos e deambulando sozinha pelos montes. Por sua vez, o colega de carteira tenta aproximar-se e acaba por se cruzar com o monstro que Tangerina desenha.

Já a conjugação com o segundo volume faz do conjunto uma reviravolta inteligente conferindo maior profundidade à história apresentada, bem como um lado negro e bastante mais arrepiante. Ainda que aparente ser uma história simples, a combinação dos dois volumes torna-a bastante interessante.

No Caderno de Tangerina e Tangerina foram publicados pela Escorpião Azul.