Como já tem sido habitual, este ano repetiu-se o famoso painel de Escolhas do Ano em que João Barreiros e os seus sobrinhos aconselham leituras de ficção científica e fantasia! Podem ver a lista completa na apresentação que acompanhou o painel e, mais abaixo, os meus escolhidos.
Já o tinha referido, mas volto à carga. As Sombras de Lázaro, o livro vencedor do prémio António de Macedo (organizado pela Editorial Divergência) do ano passado é uma boa surpresa. Trata-se de um livro de um novo autor que se enquadra no género de horror. Fiquei positivamente surpresa com este volume não só por se tratar de um autor desconhecido, mas por possuir um tom clássico e pausado, fugindo à parte mais sangrenta e popular do terror.
Seria impossível não referir um dos grandes lançamentos do ano, Winepunk. Este volume decorre numa realidade alternativa, no início do século XX, apresentando-nos uma Monarquia do Norte que teria persistido por 3 anos, graças à utilização do Vinho do Porto. Os autores que desenvolveram as suas histórias nesta realidade tiveram de manter alguma coerência, elemento fundamental que foi garantido pelo óptimo enquadramento dado pelos editores. De destacar, também, as ilustrações e o aspecto cuidado da edição.
Lenguluka de Onofre dos Santos constrói uma Lisboa diferente – uma Lisboa que resulta de novas parcerias com os países asiáticos e africanos, resultando em grandes comunidades que possuem fortes traços culturais, de diferentes tradições e costumes. É nesta realidade que um romance se desenvolve, ameaçando toda a estabilidade económica atingida. Não sendo um livro de ficção científica dura (o autor não tem grandes explicações científicas para explicar a narrativa) é uma história alternativa bastante diferente do que costumamoes encontrar no mercado português.
Circe é a reconstrução de vários contos mitológicos que usa como personagem central a filha de Hélio e Perséis. Nunca se enquadrando totalmente na vida da corte, dado não ser especialmente bela, nem especialmente dotada, Circe assiste a vários momentos chave dos mais significativos contos mitológicos, desde o castigo de Prometeu, a, mais tarde, viagens de Hércules. Não é uma história bonita e fofinha, até porque Circe é conhecida por transformar homens em porcos para melhor os degolar.
Senlin Ascends não é uma leitura excepcional, mas é uma leitura que marca pela premissa central. Trata-se do primeiro volume de uma série que decorre num mundo fantástico. Neste mundo fantástico uma torre ergue-se nos céus, constituindo uma estrutura de vários níveis, capaz de comportar cidades e reinos no seu interior. Em cada nível imperam regras diferentes, regras que irão parecer ilógicas a quem os percorre mas que, no final do livro, percebemos que poderão ter uma função.
Fantasmas da Mente é um dos mais marcantes livros de terror que foi lançado recentemente no nosso mercado. É, acima de tudo, a reinvenção do Exorcista – uma reinvenção moderna e dúbia. Neste livro uma jovem adolescente começa a apresentar sinais de possessão: asneiras, comportamentos lascivos e talvez bipolares, ameaças de morte e muito mais. A família, pobre, acaba por ceder a uma proposta para produzir um reality show, expondo-se ao mundo.
Robert Jackson Bennett ameaça tornar-se um dos meus autores favoritos. Este Foundryside é o primeiro de uma nova série fantástica que possui uma premissa simples mas eficaz – e se existisse uma escrita que permitisse reescrever a realidade? Em Foundryside usam-se caracteres especiais para fazer acreditar os objectos que se encontram em circunstâncias que não estão. Assim se convence um coche de que deve avançar a toda a velocidade por se encontrar numa descida – quando, na verdade, se encontra numa subida. Ao contrário de algumas fantasias mais tradicionais, a narrativa segue uma rapariga pobre, uma ladra que irá cruzar o caminho de entidades muito poderosas. E sofrer pesados danos por tal.
Por sua vez, Vigilance, do mesmo autor, apresenta-nos uns Estados Unidos da América em que os tiroteios foram legalizados como forma de impulsionar a compra de armas. Neste sentido, um programa de televisão explora as audiências, patrocinando atiradores que atacam centros comerciais ou estações de transportes públicos. Mas se forem mortos por um destes atiradores, a culpa será, decerto de quem leva o tiro – porque deviam estar preparados, de armas em riste, esperando o próximo evento. Paralelamente, se um atirador conseguir sobreviver receberá um avultado prémio, bem como algum civil que consiga matar um destes atiradores.
Tangerina e O Caderno de Tangerina é uma dupla de livros de Rita Alfaiate que ganha especial significado quando lidos em conjunto. É que, ambos, contam a mesma história, mas mudando, para além da perspectiva, alguns (poucos) elementos muito bem colocados que mudam de forma significativa a interpretação da história. Para além dos desenhos monstruosamente fofos, há a destacar esta dualidade construída nos dois volumes.
Em Watchers (e mais recentemente em Sentinel) Luís Louro situa a história numa Lisboa futurista, bastante semelhante à actual, mas com carros voadores e outros elementos típicos de ficção científica. Em Watchers um grupo de jovens tem canais onde exploram a realidade que os rodeia. Mas o que começa como a gravação de episódios cómicos ou peculiares do quotidiano, transforma-se na exploração da vida privada e, mais tarde, numa vontade de fazer justiça pelas próprias mãos.
O desenhador de Tony Chu inicia uma nova série de fortes elementos fantasiosos – Farmhand. Nesta série é possível criar pedaços de corpos humanos a partir de plantas. Estes pedaços são usados, sobretudo, na substituição de orgãos e membros. Mas desde o início que se percebe que esta maravilha científica terá um preço ! E que envolverá alguns elementos de horror!
Em A Febre de Urbicanda apresenta-se uma cidade retrofuturista, aparentemente perfeita, mas que percebemos rapidamente albergar apenas parte dos habitantes. A cidade perfeita é a cidade dos ricos e poderosos, separando-se dos restantes, trabalhadores e pobres, por um mínimo de pontes que possibilitam um pesado controlo sobre a passagem entre os dois lados. Mas um fenómeno fantástico irá quebrar a rotina perfeita da cidade, e constriur pontes inimagináveis entre as duas margens.
Sweet Tooth é mais uma extraordinária leitura de Jeff Lemire – uma série apocalítpica em que os seres humanos começam a desaparecer graças a uma epidemia não identificável. Paralelamente, os novos bebés humanos apresentam características animais – desde hastes de veados a focinhos de porcos.
tive com o Sweet Tooth na mão para trazer dos USA. Mas pesa uns dois a 3 kg… Ficou lá. Espero que o Gilroy temine este um pouco melhor que o Chu, que na minha opinião, ficou demasiado parvo….
Não leio trilogias ou outas logias, sem que estejam terminadas. Já me chega o raio da guerra do parvo que nunca mais termina….e que eu tinha a certeza que ia acabr primeiro na tv do que nos livros…
🙂 o Sweet Tooth já terminou. Já li os três Books (formato maior que o volume) e adorei o final. Encomendei da Book Depository aos poucos.
O Farmhand anda no limiar da parvoice do Chu. Se não gostas de Chu, provavelmente não vais gostar de Farmhand. Nestes últimos volumes, acho que o Chu tem enrolado um pouco, mas compensa com alguns poderes novos relacionados com comida que tornam a história ainda mais mirabolante.
Compreendo. Há é logias com volumes estanques. Dou o exemplo do The City of Stairs. O primeiro volume pode ser lido isoladamente. No segundo o autor também faz um esforço para ir dando informação do mundo sem infodump e também pode ser lido sem se lerem os restantes. Esta abordagem pode ser interessante.