De Jiro Taniguchi já tinha lido O Diário de meu pai (publicado na colecção Novela Gráfica pela Levoir) e O Homem que Passeia (também publicado nesta colecção da Devir) e, apesar de ter gostado, achei-o menos interessante que os dois anteriores.

A lógica de O Gourmet Solitário é simples – um homem solteiro e sozinho aproveita as saídas em negócios para explorar as especialidades gastronómicas dos sítios que visita. Por vezes explora os pratos típicos, noutras, entra em peculiares restaurantes e é surpreendido pela boa qualidade das refeições que se lhe apresentam. A cada restaurante vai-se descrevendo a refeição, apresentando uma enorme diversidade de pratos, alguns dos quais desconhecidos, até da personagem que os pede.

Mas o livro é mais do que isso. A cada episódio percebemos uma forma de estar muito diferente da ocidental, sendo que comportamentos fora do padrão são destacados pelo autor, usando o pensamento da personagem. Estes comportamentos vão desde tomar as refeições fora da hora usual, a uma postura diferente (mais relaxada ou mais amigável). A forma como são explorados nalguns episódios (com subtileza) leva-me a pensar que estas pequenas “aberrações” não são bem vistas em sociedade.

Por vezes a personagem desloca-se a outras cidades e, também aqui, se depara com variantes do idioma, diferenças gastronómicas e alterações de comportamento que são referidos com brevidade, mas de tal forma que percebemos serem discrepantes. A personagem questiona-se sobre as ocupações e vivências das personagens com quem se cruza, de uma forma que transparece as diferenças sociais.

O Gourmet Solitário é, como outras obras do autor, um livro calmo, composto por pequenos episódios gastronómicos, destacando-se o ambiente que consegue transmitir nestes breves períodos de refeição. É uma leitura pausada e interessante, ainda que o foco seja, sobretudo, a gastronomia japonesa.

O Gourmet Solitário foi publicado em Portugal pela Devir.