Tal como outra obra do autor, Bewulf, estes dois volumes pegam numa história mitológica para contar a história de um herói, neste caso Héracles. A história possui elementos mais contemporâneos e tecnológicos, sendo uma retratação da lenda em cenário urbano, mas mantendo os elementos fantásticos, como os deuses ou os monstros, enquanto adiciona algumas características científicas. A combinação não é perfeita, mas fornece alguma distinção de adaptações mais clássicas destes mitos.
A história
Héracles (ou Hercules), filho de Zeus e irmão de Perseu, é um dos mais conhecidos heróis da mitologia grega. Nestes dois volume representam-se os doze trabalhos de Héracles, apresentando a personagem num mundo semelhante à nossa actualidade, mas onde existem os míticos monstros e deuses.
A narrativa
Em termos de história, o autor não acrescenta muito de novo, retratando a vida do herói e dando destaques aos episódios mais fundamentais do seu mito. Existem, no entanto, partes que não fluem da mesma forma, sobretudo quando se centram na personagem e nas suas introspeções. Estes momentos quebram um pouco o ritmo alucinante da restante narrativa. Neste sentido, não achei que fosse uma obra bem equilibrada: apesar de ter estes momentos mais pausados, e de tentar criar uma personalidade distintiva no herói (através de episódios do seu passado e destes momentos introspectivos) falha em lhe dar uma aura e criar empatia para com o leitor.
A adaptação de Rubín destaca-se pela inclusão de elementos modernos – desde a imprensa (demonstrada com páginas de notícias e televisões) à tecnologia (demonstrada por motos, e cabos que se ligam aos deuses e que lhes permitem exercer alguns dos seus poderes). Outro ponto de destaque são as páginas de banda desenhada onde Héracles é protagonista ao lado de super-heróis ou é usado em modernas campanhas publicitárias.
O desenho
Cores fortes, desenhos ligeiramente acriançados (q.b.) e muito movimento. Em El Héroe, David Rubín alterna perspectivas e enquadramentos para criar episódios de grande acção onde se denota a velocidade das batalhas. Os monstros possuem elementos exagerados que lhes retiram alguma seriedade, tal como as personagens.
Existem variações, quer de desenho, quer de cores. Apesar de um tom mais ou menos semelhante na globalidade dos dois volumes, em termos de estilo existem passagens (que retratam recordações ou pequenas sub-histórias) que se destacam. Já as cores, apesar de se apresentarem sempre fortes, oscilam bastante, podendo tornar-se mais realistas nalguns episódios, mas passando várias vezes para duos de cores nalgumas passagens, sobretudo nas batalhas.
Para além das variações de estilo e cor que derivam dos episódios retratados, existe, também, uma progressiva mudança ao longo dos dois volumes – a história adquire uma aura mais depressiva (por conta das circunstâncias) que se traduz em cores mais escuras, desenhos mais agressivos e tensos.
Opinião
El Héroe de David Rubín não é uma simples e directa adatapação da mitologia grega. Para além da arte do autor que afasta a percepção de uma história clássica, a narrativa introduz os tais elementos mais modernos enquadrando o mito nos tempos actuais. É uma mistura complexa que, a meu ver, nem sempre resulta bem, principalmente por não se revelar constante e perceptível em todos os momentos. A vertente mais interessante será, para mim, o retrato de Héracles enquanto herói numa banda desenhada de visual clássico nas histórias de super-heróis.
A caracterização de Héracles nem sempre funciona. Existem várias tentativas do autor em retratar Héracles de uma forma mais próxima mostrando-nos as suas paixões, os seus relacionamentos e momentos mais introspectivos. Não é suficiente, a meu ver. Estes momentos são demasiado fragmentados, interrompidos por novo episódio de confronto de um novo monstro.
Algo que se denota constante é a velocidade. Héracles enfrenta monstro após monstro, missão após missão e raramente pausa para apreciar o que o rodeia. Neste sentido, Rubín consegue fluir as páginas adequadamente, passando a sensação de velocidade que é necessária nas batalhas.
Conclusão
Os dois volumes de El Héroe proporcionam uma boa leitura que, a meu ver não se torna espectacular pelos pontos acima. Não criei uma grande empatia com a personagem e senti algumas quebras narrativas. No entanto, cria um cruzamento interessante de elementos e consegue apresentar um bom ritmo de leitura, levando a uma leitura fluída. Para quem gosta de mitologia poderá ser uma boa aquisição, ainda que deva ir preparado para as introduções modernas feitas pelo autor.