Finalmente chegou o resultado do kickstarter, um livro de capa grossa, com o miolo do livro em dourado, que resulta da colaboração de Jeff Lemire, Matt Kindt e David Rubín. Este é um livro no qual depositei alguma expectativa e que entregou alguns detalhes interessantes.

A história

Um detective é chamado ao cenário de um crime. Percebemos que não é um polícia e que trabalha para algum tipo de organização secreta. Dentro do quarto encontra efectivamente um corpo, mas não um corpo normal – antes o cadáver de uma criatura de exterior semelhante ao humano, mas muito diferente em configuração interna. Estas criaturas serão uma espécie de deuses que andam entre nós. O seu objectivo? Desconhecido.

Crítica

A história abre com uma premissa intrigante e movimentada – um mistério de ficção científica que usa alguns elementos do whodunnit (o nome que se dá ao género de narrativa com detectives investigando um crime) para dar ritmo e progressão à narrativa, ainda que o detective se afaste do tradicional lobo solitário. Este detective tem uma família onde se abriga após o trabalho.

Apesar da âncora que lhe permite sobreviver a mais um dia de crimes, este detective vive obcecado com um mistério, o desaparecimento de um ex-colega de trabalho. Quando se depara com um crime impensável, não deixa de tentar ligar os dois casos. A suportar a investigação encontra-se uma organização secreta onde se encontram as chefias obscuras e, claro, um génio capaz de se mover por factos e objectos históricos, como necessário em qualquer história deste estilo.

Apesar de se afastar do cliché de detective no que diz respeito a relacionamentos, aproxima-se noutros, como sendo a dureza quando exposto a violência, a capacidade de pensar em soluções sob stress, mas também, o recurso a respostas violentas quando exposto a um cenário de perigo.

A história tem algumas reviravoltas e mantém o interesse do leitor desta forma. É uma narrativa movimentada que oscila entre os momentos de acção e as revelações. Estas revelações mantém-se dentro do esperado, sem muitos elementos extra. A narrativa mantém a informação reduzida ao essencial para mover a história, e todos os episódios têm um papel concreto na progressão.

Em termos visuais, o estilo de David Rubín é coerente com esta história. Se, noutras histórias, como El Heróe, o aspecto gráfico nem sempre corresponde ao tom da narrativa, aqui a introdução de criaturas como deuses permite a existência de elementos extraordinários onde David Rubín tem liberdade criativa. Ainda assim, denota-se alguma contenção, sendo que ao contrário de El Heróe, o estilo se mantém mais coerente ao longo de todo o livro.

Em termos de qualidade da edição, conforme já referi, este problema apresenta capa dura e páginas com rebordo dourado. O papel é mais fino do que estava à espera, mas, estranhamente, e apesar da elevada densidade de cores, não deixa transparecer as imagems de um lado para a outro da página. No final encontramos alguns extras, especialmente estudos de personagem.

Conclusão

O resultado é bom. A narrativa cativa o interesse, oscilando entre os momentos de acção e as revelações. As personagens são desenvolvidas q.b., ,sem elementos desnecessários, apresentando uma história concisa e objectiva. O desenho combina bem com a história, construindo um volume de banda desenhada interessante, e cativante para o leitor. É, em suma, uma boa história que cruza com bom resultado a ficção científica com o estilo do crime.