
Os Western parecem estar em força no mercado português. Para além das homenagens ao Lucky Luke, às publicações de Tex, Duke ou Understaker, ou passando por novas edições de Comanche encontramos este O Último Homem… que sendo uma história isolada, consegue ser magistral, tanto pela nostalgia, como pelo retrato da vida dura que obriga a decisões difíceis.

A história
Tudo começa quando Russell adopta um jovem rapaz, com algumas limitações intelectuais, trazendo-o para o duro modo de vida dos cowboys – mas não por muito tempo. Alguns, poucos, anos depois, o transporte de gado pelas pradarias será substituído pelo transporte via linha férrea, tornando a ocupação de cowboy desnecessária.
Face a estas mudanças civilizacionais, os cowboys devem procurar novas formas de vida e Russell decidiu iniciar uma nova vida com o rapaz, num rancho. Mas a caminho da nova localização, a paragem numa cidade vai ser catastrófica – o rapaz morre de forma estranha, um possível acidente com pistas estranhas que levam a pensar em algo mais. Russell terá de se confrontar com os habitantes da cidade para descobrir o que verdadeiramente aconteceu.
A narrativa
A história trata sobre o avanço da linha férrea no território americano, que irá trazer mudanças às cidades por onde passa. Paira sobre a história a dualidade da mudança que mistura medos e ansiedades, confrontando a comodidade de um estilo de vida duro mas conhecido, com as oportunidades futuras de fazer algo diferente mas com maiores lucros. A linha férrea não traz apenas novas oportunidades, mas também o tom da civilização – regras mais definidas em torno da justiça , polindo-se alguns hábitos e diminuindo-se a violência visível.
O Último Homem… decorre ao longo de cerca de 70 páginas, centrando-se inicialmente na ligação entre Russell e o rapaz adoptado, Bennett. Passa depois a uma história de acção e confronto após a morte de Bennett que explora, também, outros relacionamentos, de forma fugaz mas bem sucedida, possibilitando, depois, uma diferença de foco que permite várias reviravoltas inesperadas (mas narrativamente lógicas) e um final surpreendente.
Apesar da acção e do confronto, não esperem uma história usual de pistoleiros, onde as personagens são perspectivadas como bons ou maus absolutos, e onde se faz justiça pelas próprias mãos. As personagens têm motivações diferentes, existindo apenas as que estão cegos de dor, as que decidem agir correctamente e as que são capazes de sacrificar para um futuro melhor.
A história tem, no entanto, como única imperfeição, deixar pouco espaço para a caracterização de personagens, fazendo com que o envolvimento durante a primeira parte da história não seja das melhores. Ainda assim, é uma abordagem que conseguimos perceber após as últimas páginas.
O desenho
O desenho, em tom realista e traço fino, destaca-se pela expressividade e pelo nível de detalhe, existindo uma boa variação de paisagens e cenários, mas também de focos nas faces que apresentam diferentes emoções.
As cores oscilam entre o tom diurno bastante realista e um jogo mais forte de luzes e sombras em cenários nocturnos. Estes jogos não são exagerados, mas ajuda a destacar alguns episódios mais dramáticos e determinantes.
As cores oscilam entre o tom diurno bastante realista e um jogo mais forte de luzes e sombras em cenários nocturnos. Estes jogos não são exagerados, mas ajuda a destacar alguns episódios mais dramáticos e determinantes.

Conclusão
O Último Homem… é uma leitura que surpreende em várias vertente, sobretudo quando comparado com outras leituras em torno de cowboys. Por um lado, não se centra num cowboy justo ou justiceiro, por outro, segue uma linha narrativa original que sofre reviravoltas inesperadas, fechando com uma cena inesperada, mas excelente!