Já disse aqui, várias vezes, que T. Kingfisher se está a tornar uma das minhas autores favoritas – e isto livro prova-o. Apesar de ser uma história simples e relativamente curta, Nine Goblins apresenta uma narrativa fantástica centrada em personagens pouco prováveis em situações inusitadas com um humor negro e sarcástico.

All wizards are crazy (…)

Forget the bearded men wearing robes covered in stars trying to sell you bargain spellbooks. Nine times out of then, it’s a scam, and the tenth time, they really can do magic, but it’s not something they can teach.

Neste volume, o tipo de humor recordou-me Terry Pratchett com a sua série Discworld. As descrições que confrontam a realidade com o mundo fantástico, fazendo este último uma paródia com os paralelismos estabelecidos, a perspectiva única da personagem que não é o típico herói – tudo isto numa escrita que nos leva rapidamente de episódios mirabolante em episódio mirabolante, com personagens bem desenvolvidas e consistentes.

Em Nine Goblins, a narrativa centra-se num grupo de Goblins que se encontra em batalha, sob o comando de uma general. Habituada aos pensamentos simplistas e até infantis dos seus recrutas, comanda-os com firmeza e ironia, apesar do seu espírito intempestivo e, também, relativamente simplista. As verdades na guerra são simples e absolutas. Mas quando enfrenta, em batalha, um mago que atira o grupo de goblins para o meio de uma floresta distante, toda a realidade muda.

Em paralelo seguimos um elfo, também ele pouco típico. Ao contrário dos seus semelhantes que gostam de contacto com a natureza q.b. (desde que isso mantenha o seu aspecto real limpinho), este elfo vive isolado numa floresta e fornece ajuda a qualquer animal que o necessite, sejam insectos, sejam unicórnios. Não hesita quando um veado de ossos lhe pede ajuda. Muito menos quando um grupo de goblins lhe bate à porta. Mas as coisas ficarão ainda mais estranhas, quando percebem que todos os humanos de uma vila próxima desapareceram.

Apesar da aura cómica, a premissa leva-nos pelos terrores da guerra, fazendo um retrato pungente, mas também irónico, das circunstâncias em que os homens são carne para canhão, tão facilmente substituídos, que é impossível manter um registo das trocas constantes. Para além disso, destaca como as diferentes raças que batalham, não serão assim tão diferentes, sendo que a nível dos indivíduos não parece haver razão lógica para se guerrearem.

Nine Goblins lê-se como uma aventura, uma demanda onde os dados são lançados e cada ocorrência pode resultar em algo muito mau ou levá-los incólumes para mais um sobressalto. O facto de se centrar num grupo de goblins proporciona descrições engraçadas e cómicas, colocando o foco em personagens que, normalmente, são consideradas pouco importantes – não possuem poderes especiais, nem se destacam pela coragem consciente. Para além da aura cómica tem, também uma crítica às guerras e à forma como as diferenças culturais são usadas para fomentar o afastamento de diferentes populações.

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