Eis o segundo (e aparentemente último) volume desta pequena série de Jeff Lemire e Dustin Nguyen, a mesma dupla que nos trouxe Descender e Ascender. Tal como nestas séries, a história centra-se em personagens com aspecto de criança, ainda que, tanto no caso das outras séries, como nesta, existam outros detalhes para além da aparência. Neste caso, as aparentes crianças são vampiros seculares que permanecem com o mesmo aspecto e mentalidade.

A história prossegue a do primeiro volume, levando-nos para o meio do conflito – o grupo de pequenos vampiros tinha encontrado um grupo de humanos e alguns experimentaram, pela primeira vez, o gosto de sangue. O grupo separa-se. Alguns tomam uma postura mais agressiva e sedenta, enquanto alguns recusam essa via e preferem fazer amizade com um dos humanos que sobreviveu ao massacre – uma criança humana. Mas a criança não é a única sobrevivente. Um homem conseguiu aprisionar um dos gémeos e usa-o agora como forma de chegar ao covil dos restantes e se vingar.

Este não é o único conflito dentro do grupo de vampiros. Tendo encontrado humanos questionam algumas das instruções deixadas pelos vampiros anciãos que os deixaram ou, como agora se apercebem, os abandonaram. A verdade parece ser conhecida por um dos vampiros criança mais antigos que nunca fala, só desenha.

A história apresenta estes acontecimentos, ao mesmo tempo que se centra nos momentos de transformação de cada vampiro – momentos que nem os próprios recordam. Com o passar do tempo foram esquecendo algumas das suas memórias e ainda que retenham capacidades, não se recordam onde as obtiveram.

Visualmente, Little Monsters possui o mesmo estilo das anteriores histórias da dupla, ainda que com menos cores. As páginas encontram-se, sobretudo, a preto, branco e vermelho ocasional, uma fórmula que funciona bem com o tom da história.

Em termos de história, o ambiente é diferente do das histórias anteriores do autor. Se, em narrativas como Sweet Tooth sentíamos grande empatia num ambiente apocalíptico, e em Descender o aspecto de criança do robot (e a forma como reagia) lhe conferiam alguma inocência, aqui em Little Monsters, a aparência de criança contrasta com a verdadeira natureza, destacando os elementos decadentes e até de horror.

Apesar de se comportarem como crianças ou adolescentes jovens, alguns aspectos das suas interacções e das acções diárias repetidas são pouco normais. Estas crianças congelaram no tempo, perderam memórias fundamentais e não evoluem quer em mentalidade, quer em conhecimento. O encontro com seres humanos vem destacar os elementos menos naturais que possuem e destacar esta estagnação.

Em termos narrativos, esta série é bastante mais simples e linear, sem explorar os clichés do escolhido e alternando entre personagens de forma mais balanceada. Tal como as personagens, a narrativa move-se mais pelas circunstâncias.

Little Monsters é uma boa leitura que usa elementos conhecidos dos vampiros para construir rapidamente uma base narrativa. Os vampiros dormem de dia e saem de noite, e não aguentam a luz do sol. Neste caso, a história possui, como elemento original, o facto das personagens principais serem todas crianças e não existirem vampiros adultos. Este facto funciona como elemento atractivo, condicionando as possibilidades da narrativa.

É uma história curta e relativamente directa, mais pessimista do que outras do autor, expressando a decadência do fim do mundo mas sem a balancear com aspectos mais positivos. Sem achar que esteja ao mesmo nível de outras do autor, gostei bastante.