Eis um livro do qual não me foi fácil falar depois da leitura. Referido por alguns como uma das melhores leituras de ficção científica dos últimos anos e inovadora na forma como desenvolve um primeiro contacto com outra espécie inteligente, foi uma leitura que me despertou bastantes expectativas.

Leigh, a personagem principal, é uma bióloga marinha que estuda organismos mais primitivos, procurando evidências sobre as primeiras formas de vida no planeta. Quando um novo fosso é descoberto no Oceano Atlântico, é uma das cientistas que irá incorporar a expedição, envolvendo-se nas misteriosas descobertas, sem imaginar que esta expedição será o início de uma missão bastante mais complexa e secreta.

In Ascension inicia-se como um clássico contemporâneo sobre relacionamentos familiares e a auto-descoberta. Leigh cresceu numa família disfuncional, entre a mãe que se isolou nos compromissos profissionais e se afastou dos conflitos, e o pai que, tendo deixado o mar para constituir família, descarrega a sua agressividade em Leigh.

Neste seguimento, Leigh afasta-se da família, mantendo um relacionamento dúbio em relação aos familiares e à casa em que cresceu. Por um lado tem necessidade da proximidade, por outro, parece nunca conseguir estar em paz e harmonia, aproximando-se e afastando-os. Neste seguimento escolhe o mar, onde, nos longos mergulhos, se isola, mas também se sente em comunhão com as águas.

Esta sensação recordou-me alguns filmes e séries nórdicas em que se contemplam cenários inóspitos mas fascinantes. Neste caso, visualizamos as paisagens por Leigh, sentindo esse mesmo isolamento da sociedade, ou o estar só perante a imensidão da natureza que nos rodeia. A sensação de isolamento e afastamento mantém-se, também, quando Leigh está entre outras pessoas – os silêncios incómodos que se tornam familiares, as barreiras que se erguem nas conversas para não admitir determinados acontecimentos, as conversas superficiais e circunstanciais que são tidas a medo de puxar algum assunto mais sensível.

Leigh sente necessidade de autonomia e de isolamento. Mas não será apenas isso que a leva a procurar o mar, havendo algumas parecenças com o pai nesse aspecto. Também ele tinha uma profissão relacionada ao mar, e também ela parece cair nessa inevitabilidade. Por outro lado, sente-se o fascínio pelo desconhecido que nos rodeia – Porque procurar no espaço se ainda existe tanto por explorar no nosso Planeta, mais concretamente no fundo dos oceanos?

Se o fascínio do mar advém do pai, o foco no profissional em detrimento de tudo o resto parece herdado (ou aprendido) da mãe. Quando esta começa a apresentar sinais de demência, Leigh escuda-se na importância do seu trabalho, sobrecarregando a irmã com estas responsabilidades. Mas também o relacionamento com a irmã é peculiar, marcado pela incapacidade Leigh em ultrapassar o trauma da violência, e pela minimização dos acontecimentos pela irmã.

Entre as descrições do trabalho científico e os flashbacks de Leigh, a história desenvolve uma narrativa centrada numa única perspectiva, onde se cruzam introspecções sobre a vida e natureza, mas também sobre a humanidade, os relacionamentos e a família. Leigh nunca ultrapassou os traumas da infância, nunca perdoou e nunca avançou emocionalmente, fazendo com que esteja presa.

Estes focos fazem com que In Ascension seja uma leitura pausada com um desenvolvimento lento. E mesmo assim cativou e manteve-me interessada por saber algo mais. Não porque adorasse a personagem principal. Não porque me interessasse pela parte científica. Mas porque se manteve uma história intrigante, diferente e, mesmo, estranha.

Se gostei? Ainda não sei. Este foi o primeiro livro que li este ano e tive de esperar algum tempo antes de escrever sobre ele para o poder processar. Sei que é uma leitura que ficará comigo, que conseguiu despertar sensações e sentimentos estranhos, apresentando uma perspectiva, desenvolvimento e abordagem temática diferentes do que já li no género da ficção científica. E depois temos o final disruptor que consegue quebrar com toda a história.