Este é um dos três volumes da colecção de contos de Cixin Liu adaptados para banda desenhada que encomendei recentemente. Conjuntamente com este vieram o The Circle e For the Benefit of Mankind. O The Circle já conhecia no formato original, e o For the Benefit of Mankind foi o meu favorito dos três – mas este The Butterfly é, também, excelente.

Todos já ouvimos falar, por vezes em tom jocoso, que o bater das asas de uma borboleta pode causar uma tempestade no outro lado do mundo. Apesar de poder ser um exagero, o que acontece é que o tempo depende de tantas variáveis diferentes, que qualquer pequena alteração num dos seus elementos causa efeitos imprevisíveis, fazendo com que seja um sistema caótico – um sistema cuja dificuldade de prever é extremamente difícil e resulta nas previsões meteorológicas falhadas.

Mas, e se fosse possível aceder a um supercomputador que conseguisses, em tempo útil, resolver todas as equações de todos os elementos que fazem parte deste sistema? E ao contrário, se quiséssemos fazer chover na quarta-feira, será que, em tempo útil, conseguiríamos saber como influenciar a esse desfecho?

Esta é exactamente a premissa desta história onde um jovem cientista sérvio, Aleksandar, conseguiu desenvolver as equações e gerar um programa para saber como mexer com o tempo e provocar um céu nublado no seu país, por forma a não ser bombardeado pelos aviões. Enquanto Aleksandar parte para conseguir mudar o tempo, na cidade ficam a sua esposa e a filha que, no seguimento de um transplante de rim, precisa de medicamentação apropriada e recorrente.

A história desenvolve a vertente científica, com o acesso ao supercomputador que nunca foi usado para algo que realmente use a sua potência, e o lado humano, tanto na perspectiva do cientista sonhador que parece pretender o impossível, como na perspectiva da família que, no meio da guerra, tenta sobreviver. É-nos apresentada a situação familiar e as motivações das diferentes personagens, e o conto desenvolve-se alternando entre a missão de Aleksandar e a sobrevivência da família.

Como outros contos de Cixin Liu, não é um conto feliz, mas um conto que, subtilmente, critica a espécie humana, ao nos apresentar o impacto da guerra numa população que apenas tenta sobreviver, entre os bombardeamentos e a instabilidade na cidade – ainda que o foco pareça estar nas capacidade tecnológicas desenvolvidas. Mas no final, a sensação com que se fica é que tudo isso é acessório.

Tal como For the benefit of mankind, não encontro referências a que este conto tenha sido publicado noutro formato, pelo menos em inglês. É uma boa história, aconselhável a quem gosta do género e queira ser desafiado com ideias pouco convencionais, executadas numa perspectiva subtil mas eficaz, na forma como apresenta a humanidade.