Eis uma série que me tem fascinado, apesar de não ser recente. Depois da editora A Seita ter retomado a publicação de Thorgal em Portugal, resolvi ler os primeiros volumes e surpreendi-me positivamente pelo cruzamento de elementos de ficção científica e fantasia, ao mesmo tempo que se exploravam personagens pouco típicas, que se afastavam bastante dos estereótipos ou, pelo menos das minhas expectativas (mais alinhadas com algo do género Conan). Cada volume pode ser lido de forma independente, ainda que existam referências cruzadas com algumas histórias anteriores.

Neste volume somos apresentados a um Thorgal envelhecido e enfraquecido pela perda recente da sua companheira de vida, Aaricia. É neste contexto que lhe é oferecido o anel de Ouroboros pelo inimigo Nidhogg, como sendo uma possibilidade de rever a esposa. Mas o anel é mais do que isso, e, na realidade, quando Thorgal não resiste à possibilidade, é levado ao passado, visualizando-se a si e a Aaricia enquanto crianças.

Este retorno é mais do que uma visualização das memórias, existindo elementos que se modificam e que comprometem o desenvolvimento de Thorgal como o conhecemos. As circunstâncias mudam e aquilo que poderia ser um episódio que prova a coragem do jovem Thorgal (estabelecendo-o na tribo aos olhos do chefe) acaba por romper com toda a história que conhecemos.

A história encontra-se carregada de acção, quer sob a forma de confrontos violentos, quer sob a forma de discussões e tensão narrativa. Apesar desta componente, existe, também, lugar para a introspecção, numa sequência que se revela, simultaneamente, nostálgica (para Thorgal) e agridoce pelas reviravoltas do retorno. O Thorgal envelhecido revê a esposa, mas tal irá ter pesadas consequências e tudo o que construiu pode estar em causa.

Este volume cruza, como outros, elementos de fantasia e de ficção científica, sem se afirmar em género algum, mas conseguindo deambular entre os dois de forma exímia (com outros volumes). É uma narrativa que consegue surpreender, ao mesmo tempo que parece manter uma coerência em história e ambiente com os outros álbums que li de Thorgal, apesar do tom mais negro.

O resultado é muito bom, pelo que este volume se encontra entre as minhas leituras favoritas do mês de Janeiro. É uma história com aura nostálgica onde se sente o peso de algo catastrófico que estará para acontecer, conseguindo criar tensão e desenvolver-se num bom ritmo, ao mesmo tempo que se acompanha por um visual mais actual, mas ainda assim, coerente com a série.