A Nuvem de Smog e A Formiga Argentina foi um dos livros de Italo Calvino re-editados pela Teorema com nova e mais apelativa capa. Livro pequeno, é constituído pelas duas histórias indicadas no título, possuindo, no início, uma carta do autor em resposta a uma crítica no jornal relativamente a A Nuvem de Smog, onde se terá criticado a alternância de tom e o cinzento do texto.

A Nuvem de Smog é mesmo um texto cinzento, mas não no tom nem nas palavras escolhidas, antes pelo pó que envolve a cidade e o protagonista principal, num cenário melancólico e decadente. A história centra-se num jovem jornalista que aceita lugar num jornal de fortes preocupações ambientais. O seu fraco rendimento permite-lhe alugar um quarto na casa de uma mulher surda que, apesar dos esforços, não consegue expulsar todo o pó que se acumula constantemente em todos os cantos da casa: pó no cimo dos móveis, poeira densa que se acumla entre as páginas dos livros e se despega aquando da leitura, deixando as mãos pretas, que são lavadas a cada passagem:

Mas os livros, já se sabe quanta poeira absorvem: escolhia um da prateleira, mas antes de o abrir tinha de esfregá-lo com um trapo todo em volta: saía uma poera enorme! Então tornava a lavar as mãos e depois deitava-me em cima da cama a ler. Mas ao folhear o livro, não valia a pena, sentia nas pontas dos dedos aquele velo que se tornava cada vez mais macio e me estragava por completo o prazer da leitura.

Segue-se A Formiga Argentina, uma história mais pequena, que acompanha um casal que se muda para uma terriola acossada constantemente por uma praga de formigas. Vários são os métodos aplicados pelos moradores da pequena vila, desde venenos a armadilhas, mas as formigas continuam a encontrar caminho para o interior das casas:

Este livro encontra-se, para mim, bastante abaixo das minhas obras preferidas de Italo Calvino, Se numa noite de Inverno um viajante, e Barão Trepador: são interessantes, mas não cativantes. O primeiro não é apenas uma história, mas também um texto de preocupações ambientais, retratando em parte a sociedade e a vida cada vez mais cinzenta e menos saudável nas cidades industrializadas.