Bem-vindos ao inesperadamente estupendo Sharaz-De, um dos volumes publicados recentemente na colecção Novela Gráfica da Levoir, em parceria com o Público, que nos apresenta um recontar original das 1001 Noites. Não que seja inesperado que um dos volumes desta colecção seja excelente (os volumes desta colecção possuem uma qualidade superior à média, representando o melhor de várias vertentes desta arte) mas porque quando oiço falar de 1001 Noites recordo, por exemplo, Ali Babá, contos que, tendo algo de exótico já sofreram 1001 reinterpretações.
Foi com esta ideia mofenta que iniciei a leitura do volume, esperando uma versão ilustrada dos contos de que até gosto, mas que já foram demasiado esmiuçados. Mas em Sharaz-De a narrativa vai muito para além do que são as mais conhecidas histórias das 1001 Noites, apresentando uma moralidade exótica onde a honra tem um papel importante, mas a violência é distribuída com leviandade pelos soberanos e a magia tem um papel importante na redistribuição do equilíbrio.
A estrutura através das quais se apresentam é a clássica das 1001 Noites, com o contar de uma história por noite mas são, sobretudo, histórias onde o poder de um só homem distribui mais desgraças que felicidades, transformando-se numa vida oca e até raivosa, histórias paralelas, e até simbólicas da situação em que se encontra a própria Sharaz-De.
Para além das próprias histórias, e da forma como são contadas, são as páginas, principalmente as que se encontram a preto e branco, que deslumbram – figuras que se desvanecem em sombras várias, imagens intrincadas, representativas, de diversas texturas em construções belíssimas que expressam tanto quanto as palavras que as acompanham.
Através destas imagens encontramos um mundo de sonhos perigosos, de magia esfumada em sugestões e até raridades sobrenaturais – elementos que serão usados para desenvolver histórias centradas em arrogância e prepotência onde se destaca o exótico dos cenários, o simbolismo dos diálogos e o intrincado das gravuras.
Transmitindo o fascínio pelos sonhos exóticos, Sharaz-De transformou-se rapidamente num dos meus volumes preferidos da colecção Novela Gráfica (publicada pela Levoir em parceria com o Público e que já tem alguns novos volumes previstos para 2016).
A arte é fenomenal. 😀
Acabei de pegar Sharaz-De com base inteiramente no apelo estético de sua capa, e eu estava pensando – há algum quadrinho que você tenha verificado com base na capa sozinha? A arte ou o design é tão atraente que você nem precisa saber quem são os criadores ou até mesmo o editor? Se você não consegue pensar em algo assim, eu também estaria interessado em ver o que algumas das suas capas favoritas de todos os tempos são! Eu estou pensando em linhas de covers que apelam esteticamente, em termos de composições legais, técnica interessante, até mesmo escolha de fontes – então, enquanto é legal se sex appeal é o que atraiu você para uma capa em particular, isso não é realmente o que estamos falando aqui.
Não costumo olhar só para a capa. No mínimo, procuro o interior das páginas. Isto porque muitas vezes o visual da capa não corresponde ao interior, seja porque envolveram desenhadores diferentes para as duas componentes, seja porque implementaram uma diferença de visual.
Agora existem autores que compro só pelo nome. Do Toppi compro quase tudo o que vejo. Resultado, tenho obras dele em italiano, francês, inglês e português. Normalmente, mais o narrador do que o desenhador.
E, como acabei de responder noutro post, também depende do que estamos a falar – se for francobelga vou mais pelo desenho (a não ser que seja um narrador muito sonante), se for português vou vendo os press e as premissas, se for inglês sigo muito o narrador e vou vendo mais detalhadamente o que algumas editoras publicam.