A Lightspeed Magazine continua a ser, para mim, uma das melhores revistas de ficção especulativa do mercado, ou não estivesse a cargo de John Joseph Adams, uma das raras pessoas de quem costumo gostar de todas as antologias. Trazendo duas secções de contos, uma de ficção científica, outra de fantasia, possui ainda uma novela, excertos de alguns livros, críticas e entrevistas.

Este número começa com Yakshantariksh, um conto publicado originalmente em The Bestiary que nos apresenta seres enormes, invisíveis, apenas perceptíveis mentalmente, que projectam imagens de outros Universos e uma enorme solidão.

Marcel Proust, Incorporated de Scott Dalrymple é uma história genial de como o próprio futuro das pessoas é feito refém, ao se poder retirar a educação (que é antes uma licença) se não se pagar o respectivo empréstimo ao banco. Neste conto cria-se uma substância capaz de acelerar e melhorar exponencialmente a memória, mas se se deixar de tomar esta substância todo o conhecimento adquirido durante a toma da droga, desaparece. Se por um lado o conhecimento adquirido pode deixar de ser válido, por outro, pode desaparecer totalmente.

O conto de Elizabeth Bear, The Heart’s Filthy Lesson mostra a capacidade de adaptação dos seres humanos, que, mesmo noutro planeta, se mantém orgulhosos e com necessidade de mostrar que são capazes dos maiores feitos pondo a própria vida em risco.Já Love Engine Optimization é uma história arrepiante de como uma sociopata usa as suas extensas capacidades informáticas, para obter todas as informações necessárias para que as suas vítimas se apaixonem irreversivelmente.

Enquanto que em World of the Three de Shweta Narayan existem seres mecânicos com extensas capacidades que podem ser, até, reis, em The Magical Properties of Unicorn Ivory de Carlos Hernandez uma experiência num laboratório de físico leva a que elementos de uma realidade paralela sejam transportados para o nosso, como Unicórnios que alguns humanos se divertem a caçar por acreditarem nas propriedades mágicas dos seus chifres.

Depois de dois contos que achei pouco relevantes ou interessantes, Iseul’s Lexicon de Yonn Ha Lee é uma novela extraordinária que nos apresenta uma realidade mágica onde alguns feitiços perduram, mais fracos, com a morte da raça inteligente que os criou. Ou será que morreram mesmo? Enquanto rouba a casa de um mágico enfrenta uma criatura que supostamente não existe, e a longa batalha de submissão volta a reacender-se.

De diferentes premissas, cruzando algum horror nalgumas histórias, como já é habitual na Lightspeed, esta edição de Junho vale bem o valor investido, não só pela diversidade, como pela qualidade do conteúdo.