The Bestiary é o mais recente projecto de Ann Vandermeer, a editora responsável por outros livros como The Time Traveller’s Almanac, The New Weird ou The Kosher Guide to imaginary animals. Criadora de compilações de referência, não é assim de estranhar que fique alerta sempre que veja um novo projecto de Ann Vandermeer. Ainda por cima, este reúne bestas imaginárias, pela mão de vários autores, onde cada descrição é complementada por ilustrações e uma ou mais histórias que envolvem os monstros.
E quem participa desta compilação? Vários autores (re)conhecidos – China Miéville, Michal Ajvaz, Karen Lord, Dexter Palmer, Michael Cisco, Catherynne M. Valente ou Rhys Hughes. Estes são apenas alguns dos 28 autores que contribuíram, com os mais diversos formatos e cruzando as mais diversas referências.
Claro que nem todas as histórias me agradaram da mesma forma. Dada a diversidade de estilos e de formatos, seria de estranhar se tal acontecesse. Mas quase todas as descrições são belíssimas e imaginativas, sendo as histórias que as acompanham um dos pontos principais para conferir a cada monstro um dado carácter e especial atenção.
Entre ursos que se alimentam de livros e pequenos seres capazes de controlar todo o planeta, encontramos histórias como a de um ser que se consegue transformar em qualquer objecto que o rodeie. De tal forma que o dono de um deles o rodeia de máquinas de escrever até que o seu corpo se transformem e os ossos das costas mimetizem o mecanismo da máquina, para que o homem consiga usar para escrever(Bardeby’s Typewriter de Corey Redekop).
Bastante diferente, mas excelente em ironia, é The Daydreamer by Proxy de Dexter Palmer que se apresenta como a carta de uma entidade empregadora que pretende levar os seus empregados a instalarem, na espinal medula, um ser que os ajudará a ser mais produtivos. Por detrás de um diálogo descontraído, quase familiar, escondem-se pequenos detalhes aterradores de desvantagens minimizadas, realçando as vantagens profissionais de tal intervenção.
Encontrando-se, entre os autores, alguns mais conhecidos pelo New Weird ou mesmo pelo terror, não é de estranhar que algumas histórias se encontrem no limite da fantasia, com The Figmon de Michael Cisco onde nos apresentam as figuras que quase conseguimos ver, pelo canto do olho, no reflexo de um espelho. Semelhante tentativa de fugir para o terror (ainda que de forma bastante diferente) é a história de Brian Evenson, onde nos descreve um predador a que poucos sobrevivem para descrever.
Entre seres humanóides pouco inteligentes que são reunidos em estranhos cultos, mosquitos antropormifazados e seres que se transformam em outros animais procurando afecto e proximidade corporal, encontramos uma história peculiar de Rhys Hughes que utiliza todas as palavras iniciadas por X.
As bestas são diversas e imaginativas, reunindo-se neste volume de aspecto fascinante. No global é uma leitura agradável, existindo excelentes momentos quer pela magia das descrições, quer pela ironia das situações relatadas.