Como se tem visto pelos últimos dias (ver os livros comentados nos dias anteriores) a banda desenhada portuguesa está de saúde e recomenda-se. Neste volume reúne-se o trabalho de vários autores portugueses que pertencem ao mesmo estúdio e se organizaram para entregar histórias curtas centradas no mesmo tema. Este é o segundo volume da série em torno do estúdio, sendo que achei que o trabalho apresentado neste ainda conseguia ser de melhor qualidade do que no primeiro volume.

Silêncio foi apresentado durante o Amadora BD mas também mais recentemente no Museu Bordalo Pinheiro em Lisboa com entrega de prints inéditos numerados. Tal como o volume anterior quase todas as histórias são a preto e branco, destacando-se apenas uma a cores que corresponde à da capa deste volume.

Como a maioria das antologias de histórias, os estilos são diferentes bem como os tons narrativos, fazendo com que nem todas me tivessem interessado de igual forma. A primeira ( À luz da voz de Darsy Fernandes) destaca-se sobretudo pelo aspecto das criaturas que contém, numa história fantástica que me recorda, em efeitos, alguns trabalhos de manga.

Na segunda, Vislumbre de Bárbara Lopes, encontramos um casal que repete, em poucas horas, um episódio que antigamente era rotineiro de refeição caseira e envolvimento – um episódio que parece surge como hábito mas que está rodeado pelas habituais falhas de comunicação.

Monstros de Nuno Rodrigues e Filipe Duarte Pina surpreende pela reviravolta da personagem e da história mostrando um homem que escolhe profissões solitárias por ver todos os seres humanos transformados em horrendos monstros, alguns tentaculares e de dentições afiadas. Mas um dia esta fobia silenciosa será quebrada.

Se, por sua vez, em Sem rede de Marta Teives e Pedro Moura assistimos a uma história de encontros e reencontros onde o silêncio se alarga abruptamente, Monte Morte (a história a cores deste volume) junta a capacidade narrativa de André Oliveira com o desenho brutal de Jorge Coelho numa história carregada de violência e silêncio rural, onde os segredos da povoação mantém os costumes antigos.

Talvez porque a combinação de Monte Morte funcionou muito bem, as restantes histórias não me parecem tão fortes. Paula Bivar de Santos prossegue com Tempo, numa história de possibilidades enquanto Pedro Ribeiro Ferreira opta por dar voz ao lápis em Era uma vez – um truque divertido!

Por último, Ritual é uma história fantástica onde Ricardo Cabral dá largas ao desenho em cenários que remetem para civilizações antigas e cerimónias mágicas onde se exploram os sentidos e a realidade.

Silêncio consegue, de forma surpreendente, reunir histórias com uma qualidade narrativa e visual acima do que é comum neste tipo de antologias diversas. Contam-se histórias e surpreendem-se os sentidos numa combinação de autores e narradores que, de uma forma geral, funcionou bastante bem.