O primeiro livro de Criminal tinha apresentado histórias viscerais onde a violência constitui parte integrante do quotidiano das personagens, fazendo com que se sintam constantemente atraídas para caírem nos velhos e perigosos episódios. Neste volume as histórias voltam a incidir sobre criminosos, mas são criminosos mais sofisticados, alguns que se envolvem na violência conscientemente pelos motivos errados e arrastam os outros por maus caminhos.

Outros voltam ao crime ao conhecerem uma Femme Fatale que os enfeitiça com a sua presença. É o caso de um homem que vive uma existência nocturna e cinzenta, produzindo regularmente uma pequena banda desenhada no jornal e intercalando com longos passeios à noite, após a morte da sua esposa – morte pela qual foi perseguido por um polícia persistente até ser encontrado o corpo num carro há muito acidentado.

O episódio trouxe-lhe mazelas físicas e psicológicas que o levam a esta existência cinzenta e rotineira que será quebrada ao encontrar, num café, um casal em conflito. Ele está notoriamente bêbado enquanto ela tenta escapar à agressividade eminente. A intervenção é necessária e antecipada abrindo portas a que o cavalheiro de última hora leve a jovem, acabando os dois a noite na mesma cama.

A partir dos segredos descobertos pela jovem o homem volta a ser puxado para o crime, constituindo, simultaneamente vítima e perpetuador, num enredo que tem mais nuances planeadas do que poderíamos pensar inicialmente! A história é contada em duas perspectivas que se cruzam e complementam usando uma estratégia narrativa já conhecida do primeiro volume de Criminal.

Na segunda história conhecemos um assassino a soldo de um mafioso – mas um assassino pouco usual que tenta procurar informação suficiente das vítimas para justificar o acto de as matar. Depois de se ter tentado afastar desta vida uma vez e envolvido por necessidade, volta a pensar em se afastar, desconhecendo que a sua vida irá descarrilar quando o mafioso suspeita que o assassino poderá estar envolvido com a filha adolescente e, simultaneamente, o seu caminho se cruza com um grupo de justiceiros que pretende limpar a cidade.

A última história, The Last of the Innocent é, na verdade, a mais arrepiante. A história apresenta um homem que volta à cidade onde cresceu para assistir ao funeral do pai. Ao retornar à cidade reencontra velhos amigos e velhas paixões, apesar de estar casado com uma ricaça que se envolveu com um antigo rival.

A história vai alternando memórias da infância e da juventude às quais atribui um estilo gráfico muito próprio com os planos da personagem principal para refazer a sua vida nem que para isso tenha de envolver, fatalmente, outras pessoas.

Tal como o volume anterior este termina com uma série de capas alternativas para cada um dos números que reúne, e com uma espécie de trailler – algumas páginas de banda desenhada inéditas que apresentam alguns elementos das histórias que irão constituir o volume.

De ambiente soturno, noir, que corresponde bem às histórias apresentadas, este segundo volume volta às histórias de criminosos onde a eminência da violência se sente mas, enquanto que, no primeiro, as histórias eram mais viscerais e decadentes retratando pessoas que vivem no meio da violência, que a ela estão acostumadas e que acabam atraídas para novos episódios como traças à procura da luz, neste volume as histórias têm elementos mais refinados e alternam episódios de violência física com violência psicológica, destacando-se os planos frios de teor calculista que irá desgraçar a vida de alguém.

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