A Mina do Deus Morto é, para mim, um dos melhores contos do autor. Nele, João Barreiros constrói uma mitologia, em que pedaços de um Deus serão explorados pelos seres humanos. Mas o ponto de interesse serão os mineiros que extraem, da Terra, esses pedaços – uns mortos-vivos que persistem em condições sub-humanas, mas que ganham consciência da sua situação em momentos específicos.

O conto que se segue, O Coração é um Predador Solitário, uma família procura ganhar vantagem em relação a empresas mais dotadas financeiramente, recolhendo, de entre destroços na baía de Cascais, um poderoso artefacto. Mas esta disputa terá um preço bastante mais elevado do que o confronto entre os interessados.

Em O Encantador de Bombas João Barreiros volta à infância. Mas desta vez retrata-a no meio de uma guerra, posta de lado por interesses maiores. Na realidade aqui representada, a humanidade está em guerra e bombas são despejadas nos centros urbanos – bombas que se aproximam das fontes de calor que possam corresponder a seres humanos. Estas bombas terão um mecanismo bastante estranho e sádico, obrigando os humanos que seguem a escolher músicas sucessivas – se houver hesitações ou repetições… adeus!

Lobos à Porta é a história que fecha a antologia. Originalmente publicada numa revista, Lobos à porta é um conto futurista, que perspectiva o relacionamento do homem em relação aos seus animais de estimação, num mundo duramente capitalista e de confronto alienígena. Um fecho excelente para uma das grandes colectâneas de ficção científica portuguesa.