Becky Chambers é um daqueles casos peculiares de sucesso no meio da escrita – o seu primeiro livro foi lançado através de um kickstarter, com auto publicação. O sucesso foi tão grande que uma editora aceitou publicar os seus livros e, actualmente, tem uma trilogia publicada bem como este volume único. Mas outros livros já estão previstos para lançamento em 2021.

To be taught if fortunate é um livro isolado, não pertencendo à trilogia que tornou a autora famosa. História curta no género Space Opera, possui uma abordagem curiosa em relação às viagens no espaço que torna a história mais realista e terra a terra, sem grandes loucuras científicas quando comparada com outras histórias no género.

A tripulação é reduzida e composta por pessoas com capacidades científicas. O objectivo é simples: estudar planetas que possam conter vida mas sem destruir, contaminar ou alterar o seu percurso evolutivo. Por esse motivo, uma das grandes preocupações da expedição é garantir que provocam o menor dano possível na aterragem e na exploração do terreno.

Mas estes novos mundos não são como a Terra. Mais quentes ou mais frios, mais húmidos ou com diferentes constituições atmosféricas. Como tornar a exploração possível a seres humanos? A solução da autora é engenhosa – que tal modificar ligeiramente os seres humanos para suportarem estas diferenças? Neste caso as alterações não são permanentes mas induzidas por pequenos patches que provocam diferente expressão génica, resultando em diferenças como peles luminosas ou mais grossas.

A mesma tripulação explora vários planetas, numa nave que, pela descrição não deverá ser enorme. Então, como transportar os seres humanos, e como evitar os problemas que possam advir da viagem no espaço? Bem, neste caso, os humanos ficam a dormir durante todo o percurso, numa espécie de animação suspensa que irá prolongar-lhes a vida, mas que não evita, totalmente o envelhecimento. Como tal, ao acordarem, as unhas possuem tamanho excessivo, bem como o cabelo e os pêlos corporais. Tendo em consideração que poucos hão-de querer ser vistos nestas condições, cada pessoa se encontra num quarto isolado e equipado para se poder pôr apresentável antes de enfrentar os restantes elementos da tripulação.

Mas, e o que está a acontecer na Terra? Quando a nave deixou o nosso planeta o aquecimento global já se traduzia em fortes alterações climáticas. Após a primeira viagem visualizam as notícias do planeta, mas não são propriamente boas – o elevado nível das águas provocou o colapso de mais uma grande cidade – a cidade de origem de um dos tripulantes. A partir daqui as notícias passarão a ser ignoradas, até ao dia em que se apercebem que as notícias pararam de todo.

The Long Way to a Small, Angry Planet tinha-se destacado pela forma como explora o relacionamento entre os elementos da tripulação da nave. Entre questões culturais, sexuais e de género, a autora cria um cenário propício a desenvolver temáticas de preconceito, de uma forma empática e envolvente. Este livro é bem diferente.

To be taught if fortunate apresenta uma abordagem diferente às viagens espaciais, evitando os longos momentos em que os humanos estariam fechados numa nave, sem nada para fazer, e desconfortáveis enquanto envelhecem até ao próximo planeta. A solução não é totalmente nova, mas o ponto interessante é a forma como aborda o espaço pessoal dos tripulantes e como explora alguns elementos pouco usuais nesta perspectiva.

As personagens são pouco exploradas, sendo que a narrativa é exposta do ponto de vista de uma das tripulantes. As questões pessoais são tangenciais para o desenvolvimento da história, sendo a exploração dos mundos o que vai provocando o interesse pela leitura, apimentada pela reacção dos tripulantes a determinados factos e acontecimentos.

Não é um livro excelente, ainda que seja uma boa narrativa, com bons elementos de Space Opera que usa uma abordagem muito simples e muito humana. Trata-se de um livro bastante mais curto do que os restantes da autora que consegue cativar e manter a atenção do leitor.