Ana Cristina Rodrigues é uma das mais conhecidas autoras brasileiras de ficção científica e fantasia. A percepção que tenho do mercado brasileiro de literatura de género (ficção especulativa) é que se equivale muito ao nosso – claro que o número de leitores é maior, mas do que vejo, é muito difícil viver da escrita, ou conseguir algum rendimento relevante. Ainda assim, Ana Cristina Rodrigues tem publicado, por vezes em formato digital, o que facilita a leitura noutros locais – até porque os portes atingem valores bastante elevados.

O que é este Atlas? Bem, trata-se de uma obra de ficção especulativa, sobretudo enquadrada no género fantástico que decorre num imenso deserto, imutável e dinâmico, que terá de ser ultrapassado pelas personagens. Estas personagens carregam as suas culpas e memórias, mesmo que temporariamente esquecidas por alguns.

A estrutura

A obra vai intercalando diferentes tempos e lugares, ainda que exista uma narrativa âncora – o percurso no deserto; que interliga todas as restantes histórias. À vez, temos a possibilidade de reviver a história de cada personagem, com episódios que justificam a presença no deserto. Interligando o percurso no deserto, e estes episódios focados em cada personagem, existem ainda segmentos em tom de lenda, sobre o deserto e sobre as diferentes dimensões.

As personagens

O grupo que atravessa o deserto é composto, sobretudo por três personagens humanóides e um cavalo: um homem-morcego, uma jovem sem memórias, e o rei mecânico. Cada um carrega as suas próprias culpas e recorda a sua própria cidade, tendo de fazer um percurso diferente para expurgar a culpa – os três estarão associados à queda das urbes, por diferentes formas e objectivos, destacando-se a luta pela liberdade (seja de costumes ou de autoridades) e o amor nas mais diversas formas.

A narrativa

O Atlas não é uma obra simples e linear. A história salta entre diferentes tempos e realidades, explorando mundos que estão totalmente de acordo com a personagem que o representa. Novamente, a âncora é o deserto – a realidade para a qual a história retorna sempre, o fio condutor que vai permitindo a exploração de cada personagem. Mas nenhuma destas personagens é perfeita e, a cada salto, se desconstrói uma personalidade, mostrando as acções sublimes, as traições, o desejo e o ultrapassar da sua realidade.

Personagens (im)perfeitas (felizmente), vários mundos fantásticos e várias linhas narrativas – Atlas Ageográfico de Lugares Imaginados é uma leitura quase perfeita e envolvente, que nos leva a querer saber o que acontece por cada personagem, e que consegue a proeza de não se tornar demasiado complexa ou complicada (algo que podia acontecer facilmente com tal multiplicidade).

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