
Depois de Watchers, Luís Louro publicou Sentinel, um livro que decorre no mesmo Universo e que é tão, ou mais, mirabolante que o anterior. Ainda assim, sendo o segundo livro no mesmo Universo, perde o efeito de novidade que se sentiu em Watchers.

Lisboa continua como o palco deste livro, cruzando elementos familiares da cidade, com tecnologia futurista: os eléctricos tradicionais cruzam os ares, e os polícias de farda retrógrada andam em lambretas voadoras, correndo as ruas mais antigas da cidade.

Se, em Watchers, Luís Louro nos apresenta, neste Universo, um grupo de jovens anónimos que deambulam pela cidade com o intuito de gravar situações mirabolantes (em busca de visualizações e seguidores), em Sentinel a história centra-se numa senhora que se fartou dos observadores (os seguidores do desaparecido Sentinel) que perturbam o quotidiano de toda a gente.

Mas se no volume anterior os observadores eram os caçadores, aqui são as presas e as armadilhas em que caem tornam-se o motivo das visualizações. Claro que o que se segue é uma intensa investigação policial que irá terminar da pior forma possível.
Tal como no livro anterior, a narrativa é acompanhada pelos possíveis comentários dos que seguem os canais dos observadores. Novamente, alguns dos comentários têm nicks alusivos a personalidades da banda desenhada, desde editora a autores – uma componente que tem piada adicional para quem conhece as pessoas e pesquisa, por entre os falsos diálogos as referências.

Visualmente, este volume apresenta-se tão fabuloso quanto Watchers, com o desenho de uma cidade de Lisboa futurista mas que mantém as ruas que conhecemos. Os desenhos são expressivos, até caricaturescos, tanto nas posturas como nas expressões – um exagero controlado que torna a história ainda mais mirabolante.

Em termos narrativos, Sentinel é uma história movimentada, uma sucessão de episódios movimentados, que vai opondo a investigação aos observadores que caem que nem tordos, enquanto explora, em pano de fundo, a (i)moralidade dos habitantes da cidade e os seus valores relativos (o dinheiro primeiro… ou o número de seguidores).
Fantástico e divertido, Sentinel apresenta uma realidade futurista, paralela à nossa, exagerando alguns elementos para melhor apresentar a sua história. Uma fórmula que funcionou em Watchers e que funciona, também aqui.
Sentinel foi publicado pela Asa, existindo duas versões, uma vermelha e uma branca, com inícios diferentes.