Este pequeno volume reúne uma série de textos de Sérgio de Sousa, a maioria publicada em jornais. Os textos, são, na sua maioria bastante curtos e superficiais – pelo menos para quem já leu as críticas à vertente mais comercial dos livros por Zoran Zivkovic em O Livro. Neste caso, claro, os textos referem-se à realidade portuguesa e dão tiros mais certeiros em máquinas nacionais de produzir livros.

Comentam-se os casos de sucesso das vanity press nacionais – em que ninguém sabe se realmente foram impressos os exemplares que se pagam, e onde os serviços contratados resultam numa grande salgalhada – edição inexistente, capas manhosas e distribuição para algum lado que não as livrarias. Poucos são os casos de satisfação, fazendo a fama de alguns de engodo para outros potenciais clientes, aspirantes a escritores de sucesso. Aproveito para deixar uma sugestão – se têm assim tanta vontade de publicar, contratem uma gráfica e um profissional para capa / paginação que sai mais barato.

Mas, claro, o autor não se fica por aí, tecendo, também, alusões à máquina publicitária dos grandes grupos editoriais que produzem fenómenos – inventam-se prémios e festivais, dá-se espaço de antena e de jornal a autores assim produzidos. Um comentário adicional é que raramente estes autores trazem algo de novo, confortáveis e reconfortantes no seu papel, um best-seller para as massas comprarem e encostarem num canto (nestes temas as alusões de Zoran Zivkovic são mais carregadas e irónicas – mas também muito mais extensas).

Outro dos pontos interessantes que correspondem a algo que já disse por aí, é a referência à inexistência de uma crítica especializada nos meios oficiais de comunicação:

Em grande medida convergem interesses das empresas da informação e da edição, não dando nenhum jeito um crítico criterioso, que não pode ser o estagiário encarregado de redigir o horóscopo, que custa menos, a intrometer-se para maldizer das mercadorias preferidas pelo público ignaro.

Portanto, se o crítico quer escrever o que entende por bem, a entidade patronal não vai censurá-lo, deixa é de lhe proporcionar trabalho, discretamente. Como sempre, com honra persistem uns quantos resistentes.

E cá está. Efectivamente, se quero ver comentários a livros fora do circuito comercial e popular, há que procurar entre amigos ou conhecidos, procurando blogs ou equivalentes, para perceber, afinal, do que se trata o livro.

O livro tece ainda comentários, ainda, sobre outros temas literários, havendo também textos sobre algumas personalidades. Os temas referidos anteriormente são, no entanto, os que mais me interessaram. A maioria dos textos são curtos, alguns ocupando apenas duas páginas, outros mais longos, devendo-se provavelmente a sua extensão ao espaço disponível no local onde foram originalmente publicados. Alguns deles possuem pequenas farpas ao mundo editorial, mas tecidas sem referências claras, deixando subentender a quem se referem.

Apontamentos acerca do fenómeno literário foi publicado pela Página a Página.