
A maioria das histórias de banda desenhada que têm origem na Bonelli (pelo menos, a maioria das que li) possuem arcos narrativos curtos e relativamente simples, prestando-se a uma leitura fluída e rápida, com alguns detalhes narrativos engraçados. Raras vezes excedem este patamar. Este é um desses casos que ultrapassa o usual. Este Tex, para além de apresentar mais de 200 páginas, possui uma maior complexidade narrativa, desenvolvendo personagens e explorando a história da Argentina.

A história começa por nos apresentar Tex, permitindo ao leitor perceber a personagem e contextualizar as suas reacções ao longo da restante história: um ranger que vive entre os índios e que viaja, muitas vezes acompanhado por Kit. Kit é, também, o nome do filho, cuja mãe é índia. Para além do bom sendo que lhe conhecemos, este enquadramento explica porque Tex vai ser escolhido para ajudar com uma perigosa missão que envolve os índios na Argentina.

Um grupo de índios terá raptado uma vila inteira. Para algumas chefias militares este será o motivo perfeito para justificar um extermínio dos índios. Mas um conhecido de Tex, argentino, vê nele um possível aliado para tecer estratégias menos drásticas e consegue-lhe a nomeação de comandante da patrulha de exploradores da expedição.
Tex faz-se acompanhar pelo filho, deixando o amigo Kit na tribo índia e percorre o longo caminho até à Argentina. Aqui encontram uma situação delicada. Por um lado, mesmo dentro do exército existem opiniões contrárias, algumas das quais envenenam os soldados contra os índios. Por outro, os exploradores, pouco habituados ao regime militar, não seguem um homem por simples designação.

Tex – Patagónia explora o conflito com os índios mostrando-nos as várias opiniões que existiam em relação a estas tribos. Para muitos tratam-se de selvagens, homens inferiores a ser dizimados, por forma a fazer avançar a civilização e a colonização pelo homem branco. Os mestiços eram, também, vistos como inferiores. Estas questões raciais são um dos focos narrativos mais interessantes.
Tex, para além de contrapor estas opiniões, apresenta-se como um guerreiro capaz, alvo de admiração por alguns militares – mas as suas ligações aos índios criam reticências nalgumas facções. A sua posição na tribo índia em que vive permite-lhe fazer uma ligação e tentar estabelecer acordos que poderão ser, para ambas as partes, mais fiáveis. Infelizmente, existem vários que se movem pelos seus próprios interesses – até porque, independentemente do preconceito, existem questões financeiras em jogo.

Como personagem principal, a influência de Tex está em todo o lado. Por um lado define parcerias com algumas tribos índias pacíficas, por outro acalma algumas facções militares. As estratégias de guerra que se vão definindo usam, também, as capacidades de Tex. Esta centralização excessiva é, a meu ver, o ponto fraco de uma forte história.
Em termos visuais, este volume apresenta um bom desenho, detalhado quando necessário, mas também capaz de acompanhar episódios mais movimentados e demonstrar confrontos e batalhas.

Tex – Patagónia destaca-se por vários motivos. Por um lado, explora conflitos reais colocando nestes as suas personagens ficcionais. Os conflitos na Argentina possuem um tom diferente e dão um contexto diferente à história. Por outro lado, trata-se de uma história mais complexa com negociações e conflitos que lhe conferem várias reviravoltas interessantes. Este Tex é uma leitura cativante que nos faz ler 200 e tal páginas de enfiada que será, decerto, muito apreciada para quem gosta do género Western na banda desenhada.
Este Tex foi publicado em Portugal pela Polvo.
Na verdade o ponto forte dessa história é contar a tão propalada ‘conquista do deserto’, como é chamado ao extermínio dos nativos argentinos…