
Bem vindos a uma das piores leituras dos últimos tempos. Bem, na verdade, não é a pior coisa que li na vida, mas, ainda que a leitura flua relativamente bem, em termos narrativos alterna entre o foco num romance e um desastre numa nave espacial. Por um lado, o romance nem sempre é bem desenvolvido. Por outro o desastre na nave não traz muito de novo.
Perdida no Espaço começa por nos apresentar uma mulher, May, que acorda na enfermaria de uma nave, algures perto de Marte. Fraca e sem memória, percebe que está na enfermaria e que esteve doente. Mas também percebe que algo se passa – a inteligência artificial que lhe devia dar assistência está a falhar e não vê mais ninguém a bordo. Depois de conseguir fazer algumas pequenas reparações e reactivar a inteligência artificial, continua a procurar os restantes tripulantes, bem como perceber o que aconteceu para a nave se encontrar naquele estado.
Por sua vez, na Terra, a equipa que lançou a nave encontra-se em pânico. Não existe comunicação, nem humana, nem automática. Por algum motivo a nave deixou de responder. Para além de colegas, na equipa encontramos amigos, e, o marido de May. A situação deixa-o, claro, em pânico, mas também com um problema de consciência pois na sua última conversa tinham discutido um pedido de divórcio.
A bordo da nave, May tenta terminar as reparações mínimas que lhe permitam subsistir, dando o nome da mãe à inteligência artificial. Enquanto recupera a memória apresentam-se esses episódios aos leitores. Em paralelo, também o marido vai recordando alguns episódios, enquanto investiga, com o responsável pelo desenho da nave, o que poderá ter acontecido.
Perdida no Espaço perde-se entre memórias. Ainda que estas recordações tentem apresentar-se como um puzzle (May não se recorda do motivo para o pedido de divórcio) as longas descrições não me envolveram o suficiente. Para além das memórias românticas somos apresentados às memórias do percurso profissional de May, que a levaram onde se encontra, e a momentos mais introspectivos de May.
Julgo que estas memórias têm como objectivo criar empatia com as personagens e justificar as suas personalidades. Mas, na realidade, fala-se das competências de cada uma, sem apresentar acções concretas que justifiquem as capacidades que tanto se expressem. Esta componente não convence. A parte mais positiva e intrigante da narrativa advém dos acontecimentos em torno da nave e do acidente sofrido, mas também estes elementos não trazem muito de novo.
Ainda em termos narrativos, Perdida no Espaço não é balanceado. Começa com uma sucessão de memórias e momentos introspectivos, bastante calmo em ritmo e desenvolvimento. Na segunda metade do romance, a acção aumenta e quase se transforma num thriller – acelerado, com a revelação “dos maus” e das motivações por detrás do acidente na nave.
Nestes vários sentidos, é dos livros menos interessantes que li recentemente, sobretudo quando tomamos em consideração tratar-se de um livro de ficção científica. A ciência quase não é abordada, apresentando-se, até, alguns equipamentos e factos que contradizem os conhecimentos científicos, mas sem explicar a sua base. Por outro lado, em termos de romance também não é excepcional, falhando em nos criar a dimensão do relacionamento.
Perdida no espaço é, portanto, uma leitura dispensável. Não se destaca nem como romance nem como ficção científica, nem, até como thriller, apesar de ter elementos de todos estes géneros.