Esta série não é recente, mas só agora (a propósito de outras séries de banda desenhada sobre a Segunda Guerra Mundial) é que me resolvi a adquiri-la e a lê-la. Os dois primeiros volumes compõem uma única história. Para além do bom aspecto visual, estes dois apresentam uma história focada num par de soldados num cenário pouco usual de guerra. O resultado cria simpatia para com as personagens, é envolvente e entrega uma boa história.

A história

Entre Dezembro de 1944 e 25 de Janeiro de 1945 a Alemanha lançou uma contra ofensiva aos aliados, com o objectivo de dividir as suas forças militares. Esta operação, que ficou conhecida como a Batalha dos Ardennes, surpreendeu algumas forças dos Aliados, que se encontravam espalhadas pelo território. A operação decorreu nos territórios belga, francês e luxemburguês.

As várias tropas encontram-se dispersas pelo território e é neste enquadramento que acompanhamos um pequeno grupo de soldados aliados, esfomeados, cansados e feridos que deambulam pelo território. Encontrando duas crianças judaicas perdidas procuram um local para se esconderem e acabam por encontrar refúgio numa quinta habitada apenas por uma mulher.

Os dias de pausa levam todos a tentar criar uma normalidade, interagindo e criando fortes laços afectivos. As crianças vêm na mulher da quinta uma figura maternal, e um dos soldados envolve-se romanticamente com a mulher. Claro que este paraíso não durará para sempre, interrompido por um soldado alemão que pretende, também, esconder-se..

A narrativa

Na guerra não há heróis e todos os homens acabam por se ver em situações em que matam inocentes, ou perpetuam atrocidades, por melhores que sejam as suas intenções. Este elemento é aproveitado na narrativa para mostrar um soldado aliado que é assombrado pelas mortes de que se sente responsável. Será este elemento que lhe dará humanidade e nos fará sentir empatia por ele. Em contrapartida, também a mulher tem os seus próprios segredos que serão usados na história.

Uma das componentes interessantes na narrativa, é que as personagens apresentadas não são perfeitas, ainda que existe uma representação absoluta da maldade por parte dos típicos soldados alemães. Felizmente, existe uma excepção que demonstra como alguns foram forçados a participar, tentando usar os seus próprios meios para contrapor alguma da maldade que presenciam, principalmente no extermínio dos judeus.

O autor opta por uma abordagem próxima das personagens, intercalando os episódios actuais com alguns episódios passados, sendo que usa sobretudo a conversa entre personagens para mostrar o que aconteceu anteriormente. O período sem guerra, em reclusão numa quinta, permite conhecer o seu lado mais humano, aproximando-nos dos soldados e fazendo-nos perceber que não são meros fantoches de armas nas mãos. Esta estratégia funciona bem, fazendo-nos escolher um lado quando, mais tarde, se retomam os confrontos típicos de uma Guerra.

O desenho

Típico franco belga de linha clara, o desenho de Airbornne 44 apresenta-se detalhado e realista, oscilando entre os cenários brancos do duro Inverno e os aconchegantes episódios da quinta que levam a uma quase normalidade. As perspectivas mudam de forma adequada dependendo dos episódios, aproximando-nos ou afastando-nos das personagens, criando intimidade ou frieza conforme necessário.

Conclusão

Estes dois volumes apresentam uma série sobre a Segunda Guerra Mundial capaz de envolver o leitor e de o fazer criar ligações com as personagens. A narrativa e o desenho são acima da média, fazendo com que esta seja uma das melhores séries de Guerra que li nos últimos tempos. Irei, decerto, ler os volumes seguintes (até porque já os encomendei).