O lançamento de Stumptown parece ter passado meio despercebido. Não me recordo de ter visto comentários ou destaques (pelo menos na altura em que saiu). Eu própria não o fiz. Li-o um pouco mais tarde, mas o que encontrei ficou-me o suficiente na memória o suficiente para querer ler o segundo volume assim que tivesse oportunidade.

A história

Stumptown apresenta-nos uma detective feminina com todos os clichés da profissão – um presente de vício, entre o jogo e a bebida, um passado obscuro (com algum segredo), mas um bom coração, apesar das tentativas de parecer dura e insensível.

No primeiro volume Dex Parios (a detective) é obrigada a investigar o desaparecimento de uma mulher, como paga pelas elevadas dívidas de jogo que tem. A desaparecida é neta da dona de casinos e namorava o filho de um chefe da máfia. Trata-se de uma combinação perigosa para uma investigação, sendo que Dex nem sempre tem o melhor tacto para falar com quem deve para prosseguir as próximas pistas.

O segundo volume leva-nos a uma Dex que está a abrir o seu gabinete oficial para receber casos. Os vícios parecem menos vincados, mas a cabeça continua dura. Dex recusa o primeiro caso (por conta da sua origem) mas aceita um segundo, supostamente mais simples, que a leva a cruzar-se com outros elementos tão ou mais perigosos do que os apresentados no primeiro volume. Em ambas as histórias Dex é uma personagem com muito pouca sorte que se vê rapidamente em lutas e situações difíceis de explicar.

A narrativa

A detective é caracterizada como uma lutadora dura, apesar dos vícios que sustenta – uma característica necessária para dar, principalmente no primeiro volume, uma imagem de decadência que justifica o seu temperamento. Mas Dex é, também, uma irmã cuidadosa que toma conta do irmão com trissomia 21.

Dex recordou-me ligeiramente Jessica Jones. Ambas detectives mulheres, com pouca sorte e poucos amigos, que se vêem facilmente em situações difíceis. Ambas são duras. No entanto, Dex é menos deprimente, menos melancólica e mais caricata. Diria, quase, que a sua pouca sorte é quase cómica. Por outro lado, o lado humano de Dex é explorado de forma mais directa, sendo o relacionamento com o irmão um dos principais elementos de caracterização.

Ambas as histórias são movimentadas, com pequenas reviravoltas interessantes que seguem por caminhos não demasiado obscuros, mas imprevisíveis. Quase todos os passos da investigação resultam numa luta ou num confronto verbal. Mas quase todos os passos acrescentam algum elemento diferente ao caso.

Após algumas pesquisas, a personagem do segundo volume, Mim Bracca já tinha sido explorada noutro livro do autor, A Fistful of Rain.

Conclusão

O tom quase monocromático, o ritmo e a caracterização indicam uma história de detective com todos os clichés mas que, mesmo assim, consegue surpreender em vários aspectos. Dex, a personagem principal não é apenas um peão e possui uma caracterização muito própria que a distingue de outras histórias do género.

O resultado é muito bom dentro do estilo em que se integra, conseguindo apresentar uma abordagem diferente para casos que poderiam ser quase banais, mas mantendo um bom ritmo. É, sem dúvida, uma série de que gostei bastante.