
Este livro remete-nos para a velhice e para as mudanças de vida que se forçam nos últimos anos, de menor independência. É um relato emotivo, mas também bem disposto, que demostra como as personagens rejeitam submeter-se a uma existência cinzenta de quem espera pela morte.
Alteração em Julho de 2022 – Li este livro na edição espanhola, mas entretanto saiu a edição portuguesa pela Ala dos Livros, pelo que adicionei informação um comparativo entre as duas edições no final do artigo. A foto da capa foi trocada para a edição portuguesa, mas as fotos das páginas mantiveram-se nas da edição espanhola.
A história
Depois de quatro décadas a viver na mesma casa, Yvonne tem de mudar de vida. Para trás deixa memórias e pedaços de vida familiar, bem como velhos hábitos e rotinas. Mas ao instalar-se no lar vai ter de se adaptar – não só a um novo espaço, como a alguma falta de controlo sobre a sua própria vida.
O quarto onde se encontra tem uma decoração que lhe é pouco adequada, e o seu dia-a-dia é controlado pelos funcionários do lar. À mínima liberdade é chamada à atenção como a uma criança, com os filhos presentes.
Ainda assim, Yvonne não se deixa domar e consegue, com um novo grupo de amigos, reaprender a aproveitar a vida na velhice, usufruindo quer de novas intimidades, quer de pequenas aventuras fora da redoma do lar.



Crítica
La Inmersión começa como um relato triste que revela a solidão de uma idosa que vive numa casa carregada de memórias. A passagem para o lar é assumida pela mesma, ainda que contenha a necessidade de se adaptar a um novo regime – o que não é fácil. A nova vida tem aspectos positivos e negativos. Por um lado cria nova amizades, e estabelece um novo relacionamento amoroso. Por outro, é tratada pelo lar como uma criança em vários aspectos.
Yvonne é, no entanto, uma pessoa particular. Além de bem humorada, revela-se uma personagem com a sua dose de irreverência e rebeldia – apenas o suficiente para manter a sua personalidade e usá-la de forma mais divertida e interessante. É, também, uma personagem com bastante empatia para com os que a rodeiam.
Centrando-se nesta peculiar personagem, a história é agridoce. Por um lado, assistimos à velhice solitária e a uma aparente submissão a um novo regime, por outro, mantém-se a boa disposição e mostra-se como a vida não acabou e ainda pode trazer bons momentos.
O desenho foca-se, sobretudo, nas expressões corporais e faciais. O enquadramento é, quase sempre, simplista, sobretudo nas perspectivas mais próximas das personagens. O desenho é expressivo e envolvente, demonstrando a fragilidade, mas também, a emotividade destes idosos.



Conclusão
La Inmersión revela-se uma leitura acima da média. Não chega ao patamar do excelente, mas aborda algumas questões sensíveis de forma interessante e bem disposta, apesar dos momentos mais ácidos que são, claro, expectáveis. É, sem dúvida, uma leitura formidável.
A edição portuguesa, lançada em Portugal pela Ala dos Livros, apresenta-se na boa qualidade já habitual da editora, em capa dura, mas sem extras (tal como a edição espanhola que também não os tem). A página da edição portuguesa é, no entanto, maior, dando mais margem para o devido enquadramento. Denota-se também, uma ligeira menor saturação da cor na edição portuguesa, e uma capa mais grossa e, consequentemente, mais forte. Ainda que a diferença de qualidade não seja muita, a edição portuguesa fica a ganhar.

