Li o primeiro livro de Bernard Cornwell há muitos anos. Tantos que não os consigo precisar. Decididamente, já passam de 20. Talvez rondem os 25. Desta vez, a novidade é a comparação com a série televisiva, a que entretanto assisti. Afinal, esta série de Cornwell (mais longa) é melhor ou pior do que as restantes do autor? E… afinal, é melhor ou pior do que a série televisiva?

A história

Este volume é o mais ficcional da série até agora. Não havendo suficientes detalhes sobre alguns acontecimentos da época, o autor aproveitou a liberdade narrativa, para nos apresentar mais uma aventura de Uhtred, um saxão nobre ficcional que terá sido criado por Vikings. Entre os dois mundos, é sucessivamente levado a escolher a renovação das suas lealdades ao Rei Alfredo.

Desta vez, apresenta-se uma profecia de que Uhtred poderia tornar-se Rei de Mércia, assumindo o poder conjuntamente com os Vikings. Esta profecia seria dita por um viking morto, Bjorn. Paralelamente, a princesa Æthelflaed é levada a casar com Æthelred, um desagradável primo de Uhtred. Cheia de esperanças num amor de sonho, Æthelflaed é confrontada com ciúmes e violência doméstica, enquanto ouve incessantemente as indicações dos padres para se submeter ao seu marido.

É neste enquadramento que Uhtred é levado a defender Mércia, apesar das suas lealdades divididas e da pouca amizade que sente pelo primo. Mas quando Æthelflaed é raptada pelos Vikings, a troco de um enorme resgate, Uhtred será o homem adequado para ajudar na negociação.

Crítica

Comparando Cornwell a outros autores de ficção histórica, o desenvolvimento de personagens costuma ser um dos seus pontos mais fracos. Ainda assim, nesta série, tem sido um elemento onde tem focado alguns esforços. A história é narrada pela perspectiva de Uhtred, que, assim, nos apresenta o que estaria a pensar aquando da tomada de algumas decisões – algo que ajuda a perceber alguns acontecimentos. Ainda assim, é a única perspectiva. Desconhecemos o que outras personagens sentem ou pensam, havendo apenas algumas pistas dadas pela visão de Uhtred.

Tal como noutros livros de Cornwell, destacam-se os detalhes estratégicos, tanto no decorrer das batalhas (com descrições de lutas corpo a corpo, paredes de escudo e golpes de espada), como na escolha de terreno para a batalha, sem esquecer os detalhes políticos das alianças e da gestão de expectativa dos vários nobres. Neste último caso, estes detalhes são percepcionados por Uhtred que, anos depois, com a experiência acumulada, os percebe de outra forma.

O jovem Uhtred é demasiado energético, agindo várias vezes de cabeça quente, sem perceber as implicações políticas das suas acções. Mas o narrador, o próprio Uhtred, mas idoso, compreende melhor as consequências e as jogadas políticas que foram tomadas e acrescente essa perspectiva à descrição da história.

No final do livro, o próprio autor, Bernard Cornwell, refere que teve maior liberdade criativa, dada a escassez de relatos (ou os buracos neles existentes). Este é um volume mais movimentado e com reviravoltas curiosas, onde Uhtred tem mais espaço para ser o verdadeiro protagonista, ao invés de ser levado pelos acontecimentos históricos.

Comparativamente à serie (que vi entretanto), notam-se algumas diferenças nos acontecimentos. Nada de muito fulcral para o decorrer da história. A grande diferença estará na narração da história que, no livro, é feita por Uhtred, adicionando-se assim duas camadas aos acontecimentos: a dos pensamentos do guerreiro aquando da acção ou decisão, e a visão do guerreiro, enquanto velhote narrador. Estas diferenças na forma de narrar a história, permitiram-me ler este volume, sem achar que estava a ler uma repetição absoluta da série, fornecendo curiosos detalhes adicionais.

Conclusão

Para quem gosta de ficção histórica com detalhes estratégicos, terá nesta série uma boa leitura. E mesmo que já tenha visto a série televisiva, poderá encontrar novidades interessantes na série no formato escrito. Uma leitura recomendável!