
Entre os anúncios das edições inglesa e francesa, eis que descobri estar disponível em espanhol este La Bella Muerte. O visual da capa capta a atenção e se procurarmos algumas páginas percebemos que o interior corresponde à embalagem. O facto de a história ser apocalíptica é a cereja no topo do bolo!


A história
Num futuro incerto, mas não muito distante, os insectos exterminam os seres humanos. Ou quase todos. Um sobrevivente vive isolado gravando programas de rádio e tentando perceber se existem outros seres humanos vivos. Até aqui a história parece-se com tantas outras histórias semelhantes (havendo até alusões a um clássico da ficção científica).
Mas este homem encontra, um dia, outros sobreviventes! E é aqui que a história passa a centrar-se neste pequeno grupo de três jovens que deambulam entre as ruínas da cidade em busca de alimentos e tentam passar despercebidos aos insectos. Este modo de sobrevivência causa stress e depressão, originando discussões e comportamentos estranhos no grupo. Mas quando encontram uma outra sobrevivente, eis que tudo muda.



Crítica
Normalmente começo pela narrativa, mas neste caso vou começar pelo desenho. Como tinha indicado antes, o estilo de desenho que se encontra na capa é o encontramos nas páginas interiores. A acção decorre toda no espaço urbano, havendo várias imagens em que se aproveita o contexto apocalíptico da cidade, apresentando páginas em que se usa uma só cor, predominantemente o castanho avermelhado, ou um azul esverdeado.
O visual é agradável, ainda que nem sempre muito coerente em termos de traço: o espaço apresenta-se detalhado e composto, o que contrasta com a apresentação mais tosca das personagens, onde se destacam feições com traços rígidos e corpos proporcionalmente maiores do que o espaço que deveriam ocupar. Ainda assim, La Bella Muerte apresenta páginas agradáveis e até, formidáveis.
Em termos narrativos, a história usa alguns clichés do género apocalíptico, subvertendo-os, por vezes, de forma irónica. La Belle Muerte começa pelo foco nos sobreviventes, explorando o seu quotidiano e a forma como interagem, passando, numa segunda fase, às intenções dos insectos. Na primeira fase conhecemos as personagens e percepcionamos alguns dos momentos passados, mas julgo que estes momentos acabam por criar menos empatia com o leitor do que era suposto – talvez porque estas cenas acabam por não nos deixar perceber motivações ou intenções.
A segunda fase, explora a relação com os insectos e o que realmente pretendem da humanidade. Nesta parte a história toma contornos ligeiramente surreais, perdendo-se um pouco a coerência com a primeira fase – fica-se sem perceber a quase total chacina dos humanos, e de que forma este extermínio é uma forma de atingir os objectivos declarados.
La Bella Muerte consegue, no entanto, ter elementos originais e interessantes, sobretudo na forma como se desenvolveu o apocalipse e na subversão de alguns clichés. Fica como elemento menos positivo, a falta de coerência entre as partes.



Conclusão
Este volume é uma leitura visualmente muito interessante, que capricha no detalhe das paisagens urbanas e no grandiente de cores usados. A história também tem pontos de interesse, principalmente para quem gosta de ficção científica apocalíptica, ainda que precisasse de limar alguns pontos na coerência da linha narrativa.
Nota: este livro encontra-se publicado em francês e em inglês.

