
Este livro, publicado em Portugal pela Minotauro apresenta uma premissa que cruza thriller com pitadas de fantasia. À semelhança de várias outras narrativas, uma personagem acorda para viver o mesmo dia várias vezes, até conseguir descobrir quem assassinou Evelyn Hardcastle. A premissa não é totalmente original, mas o conceito é curioso.
A história
Um homem ganha consciência no meio de uma floresta e assiste ao assassinato de uma criada, de nome Ana. O assassino deixa-lhe uma bússola no bolso e as indicações de como chegar a uma casa. De si próprio, nada se recorda. Dos restantes, muito menos – só o nome Ana ficou registado.
Após os momentos iniciais confusos, este homem descobre ser um médico. Mas quando acorda novamente vê-se noutro corpo, de memórias novamente confusas, e no meio de um dia que parece repetir-se noutra perspectiva. Este dia será o aniversário da morte do irmão de Evelyn, e os convidados serão o mesmo que terão estado na casa varios anos antes – uma piada irónica dos pais de Evelyn que pretendem marcar-lhe o futuro.
É o encontro com um homem, vestido como um médico da peste, que lhe vai explicar estar ali para descobrir o assassino de Evelyn Hardcastle. Durante sete dias irá passar por diferentes corpos, tendo a possibilidade de explorar diferentes perspectivas daquele evento, bem como estar em condições para descobrir distintas relações entre as várias personagens. Tal como ele, quatro outras pessoas estarão a tentar descobrir o assassino – mas ao contrário dos restantes, a nossa personagem principal, tendo-se voluntariado para este papel, tem a vantagem de poder experimentar vários corpos. É uma corrida contra o tempo, e apenas o que descobrir o assassino poderá escapar.
Crítica
As Sete Mortes de Evelyn Hardcastle é uma narrativa longa – a história decorre ao longo de mais de 500 páginas e tem, por vezes, momentos menos interessantes ou menos movimentados. Existe sempre a aura de um perigo, seja por conta dos assassinos à solta, seja pelos restantes investigadores do crime. Ainda assim, o interesse na narrativa não é constante e homogéneo, havendo partes mais pausadas que, a meu ver, poderiam ter sido menos detalhadas.
A cada corpo a nossa personagem tem uma nova perspectiva – não só porque cada personagem se relaciona de forma diferente com as restantes, mas também porque em cada corpo existem restos da personalidade orignal que lhe concedem trejeitos e impulsos diferentes. Nalguns corpos experimenta as dores da idade, noutros a velocidade de movimento de um jovem. Este ponto, que até é interessante a cada novo corpo, é explorado um pouco excessivamente levando a momentos mais pausados e menos interessantes ao longo da leitura.
A cada dia a personagem descobre novas relações entre as personagens e novos factos, construindo, lentamente, um curioso puzzle. A vítima não é exactamente a jovem inocente que pensamos, o assassino também não, e todas as nossas conjecturas e deduções vão sendo revistas com as novas descobertas.
Usando uma premissa comum a várias outras histórias (com o twist da troca de corpo) constrói-se uma investigação diferente. Apesar dos momentos mais mortos, flui bem, sem grandes momentos de aceleração. Ficamos, no entanto, sem perceber alguns elementos que teriam sido interessantes.
Conclusão
As Sete Mortes de Evelyn Hardcastle não é uma leitura excepcional, mas é uma história engraçada que usa uma premissa já vista reformulando-a de forma interessante. A leitura é, quase sempre, fluída e vai contendo as reviravoltas necessárias, com a adição de novas perspectivas. Recomendo-o a quem gosta de crimes, e que não se importe com o detalhe fantástico da premissa.