Do mesmo autor de Pele de Homem foi lançado recentemente, pela Norma Editorial, este Tenebrosa, cuja sinopse nos leva por uma história semi medieval com detalhes fantásticos. Esta foi uma daquelas aquisições rápidas, que me atraiu, quer pela autoria, quer pela premissa.

A história

Arzhur é um cavaleiro caído em desgraçada a quem parece ter sido dada uma segunda oportunidade – três velhotas oferecem-lhe uma recompensa, em troca de salvar uma princesa em apuros aprisionada num castelo. O escudeiro de Arzhur desconfia da aura das três idosas, mas o cavaleiro lá aceita, crente que nesta missão há-de reencontrar a glória perdida.

O início, tão semelhante, a outras histórias de fantasia medievais, em que princesas são salvas de monstros, cedo se transforma numa progressão bastante diferente do habitual. É que afinal a princesa não precisava de ser salva, mas tendo o cavaleiro morto os seus amigos e protectores a soldo das velhotas a quem se opõe, a princesa, decide-se a procurar guarida junto do pai, fazendo as pazes com o cavaleiro desenganado.

Crítica

Tenebrosa pega no início comum a várias histórias de fantasia para construir uma história diferente e perturbadora. A princesa, que afinal não precisava de ser salva, é uma criatura poderosa, capaz de magia, que a tenta controlar a todo o custo com receio do dano que dela pode provir. A partir daqui demonstra uma história onde as mulheres são temidas por serem fortes e destemidas e onde os cavaleiros, apesar de fortes guerreiros, conseguem crescer como adultos sensíveis.

Cada personagem que vamos conhecendo não é, portanto, bem aquilo que devia ser. As velhas são figuras dúbias, por um lado assustadoras, por outro capazes de sentimento. O rei, agora poderoso, nem sempre teve uma coroa na cabeça. A rainha não é uma pessoa nobre, sendo um alvo fácil para influências negativas.

Esta linha de histórias fantásticas de contornos negros é um estilo que tem ganho destaque nos últimos tempos, existindo várias narrativas que usam as fantasias de paisagem pseudo-medieval para se destacarem. Nesse sentido Tenebrosa cumpre com os pressupostos desta linha, conseguindo ter elementos originais, apesar de, grosseiramente, a linha narrativa ser relativamente simples.

Existem, no entanto, alguns detalhes cliché na forma como se gera o conflito entre personagens, o que será um dos pontos menos positivos da história. Sim, sabemos que o cliché é usado porque funciona, mas aqui precisava de ter um toque mais contextualizado para funcionar melhor. Da forma como se encontra na narrativa, foi usado para apressar ou facilitar uma progressão.

Em termos visuais, o desenho é expressivo e emotivo. Ora se foca em expressões retirando foco em qualquer outro elemento, ora desenha paisagens detalhadas ou rápidas cenas de batalha. O estilo visual corresponde bem ao ambiente medieval, ligeiramente clássico no que apresenta, mas bastante fluído e agradável.

Conclusão

Menos interessante ou menos disruptivo que Pele de Homem, este volume é, ainda assim, uma boa leitura, apesar da aura comparativamente mais clássica e menos inovadora. A história reverte alguns dos elementos tradicionais das histórias de fantasia medieval, mas mantem alguns dos que caracterizam uma narrativa deste estilo – o suficiente para não quebrar totalmente o género do qual bebe a influência, apesar de se tornar envolvente e interessante. Um dos pontos de destaque é, sem dúvida, as personagens que apresentam elementos que contrariam as primeiras impressões.

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