Eis o livro de Verão perfeito para mim! Matt Haig, autor de livros como Os Humanos ou A Biblioteca da Meia Noite, parece ter vindo a aperfeiçoar um tipo de ficção especulativa leve e própria para leitores de todos os géneros. Tal como com os restantes livros, o autor coloca uma premissa curiosa e aproveita-a ao máximo. 

Neste caso, nem se trata de uma premissa original, mas de uma ideia explorada em várias outras obras de ficção. O que distingue Como Parar o tempo destas outras obras? 

A história

A personagem principal desta história, Tom Hazard, parece ter 40 anos, mas tem, afinal, vários séculos de idade. Tal como existem pessoas que envelhecem muito rapidamente e que, em criança já possuem aparência de velhote, neste caso, Tom Hazard envelhece muito lentamente. 

A sua diferente progressão pelo tempo, bem como a maior imunidade, levam a que, na época em que nasceu, rapidamente seja visto como influenciado por algum pacto com o demónio – e claro que as culpas recaem sobre a mãe, acusada de bruxaria. 

Após o episódio traumático de ver a mãe condenada e morta por feitiços que não fez, Tom Hazard desloca-se para uma grande cidade, como forma de viver mais facilmente escondido no meio da população. Mas nem isso o irá livrar de ser alvo de olhares e, novamente acusações. Mas a história leva-nos, principalmente, à época actual, em que Tom Hazard procura ocupar uma posição de professor de história – uma ocupação que combina bem com as suas particularidades. 

Crítica

A história vai alternando entre os vários tempos em que Tom já viveu, focando-se ora nos tempos actuais, ora nos episódios que justificam algumas reacções e pensamentos. Agarrado aos acontecimentos do passado, Tom parece não aproveitar totalmente o seu presente. O peso das memórias cria intensas dores de cabeça, e dada a pertença a uma organização secreta para os que são como ele, não pode estabelecer laços com os comuns mortais. 

A narrativa alterna, pois entre as memórias e o presente. Tom conheceu figuras históricas e recorda-se da alguns momentos essenciais na história – elementos importantes e interessantes para aproveitar nas suas aulas de história. 

O livro aproveita as particularidades de Tom para explorar temas como as bruxas e a sua condenação, demonstrando como os julgamentos eram tendenciosos e as populações altamente manipuláveis por alguns que se acreditavam ser capazes de expiar o mal. Estas cerimónias não resultavam apenas da exaltação dos locais, mas proporcionavam uma espécie de controlo de quotidiano, através da batalha vencida para com o mal. Entre as doenças e a pobreza, era mais fácil acreditar que as maleitas tinham origem numa bruxa do que nas circunstâncias. 

Tom é, pois, uma personagem traumatizada. Tendo visto a sua mãe morta num destes julgamentos, e fugindo para a cidade, percebe que a sua capacidade de não envelhecer lhe traz problemas quando se casa – mas a esposa não envelhece à mesma velocidade, fazendo com que olhares indesejados se fixem na sua família. Novamente, Tom é obrigado a deixar aquela realidade e a procurar refúgio, ora nos mares, ora em cidades distantes onde usa os dotes musicais para sobreviver. 

Tal como Tom, outros humanos de longa vida vão sendo traumatizados pela descoberta das suas capacidades. Alguns juntam-se (forçados) a uma sociedade secreta que não só fornece novas identidades, como assegura que a sua existência permanece oculta. Sem grande surpresa, esta sociedade secreta não é apenas aquilo que diz ser. 

E é neste ponto que este é dos livros mais fracos do autor. A organização dos que vivem mais do que o suposto força os membros a juntarem-se (ou serão eliminados), manipula-os e usa-os para fins próprios, como se todos fossem agentes secretos à espera de uma missão. Mas ainda assim, é relativamente simplista e previsível. 

Em paralelo, o espírito bloqueado da personagem principal impede-o de viver na totalidade, evitando outros seres humanos e envolver-se emocionalmente. Grande parte do livro é passado saltitando memórias para uma existência particular, deixando o sentimento de que este livro poderia ser muito mais. Na prática, o conceito é muito semelhante ao de um homem imortal, mas sem as usuais complexidades que acompanham estas personagens. 

Em compensação, a leitura é rápida e suave, fazendo com que seja um page turner como outros livros do autor. A leitura é agradável, sem grandes profundidades e introspecções, resultando numa experiência engraçada, mas esquecível. Este livro pega num conceito menos original do que os restantes, e acaba por não fazer nada de distinguível com a premissa. 

Conclusão

Como parar o tempo é, como outros livros do autor, uma leitura leve e agradável, fluída e directa. A premissa que tem por base não é totalmente original, tendo sido já explorada por diversas outras histórias ficcionais. Talvez por isso, a concretização não traz muito de novo, sendo um dos livros mais fracos do autor, quer pela falta de originalidade, quer por possuir poucos ou nenhuns momentos de humor (elemento que era normal nos anteriores).