Capa de contornos épicos, título composto e sinopse curiosa. Este volume, primeiro de uma série, criou-me alguma curiosidade e vontade de ler alguma fantasia épica, à semelhança de tantas outras séries que já li e até gostei. A história entregou de acordo com algumas expectativas, ainda que tenha falhas que espero ver limadas nos próximos volumes.
Lukan, a personagem principal, é um pequeno nobre que se viu corrido de casa no final da adolescência por um episódio de contornos dúbios, em que o pai, austero, o culpou. A partir dai tem viajado de cidade em cidade, de casa de jogo em casa de jogo, vivendo nos limites da legalidade, entre aventuras e quezílias.
A história começa exactamente com um destes confrontos que termina rapidamente por intervenção de uma velha amiga – a mulher que fazia as funções de governanta, ajudando o pai a gerir os seus pequenos domínios. É esta que o informa que o pai terá sido assassinado, fornecendo-lhe a última mensagem que terá escrito e que lhe dará pistas para o culpado.
A partir daqui Lukan viaja para a cidade de Saphrona onde descobre que a pessoa mencionada na mensagem está presa. Para conseguir conversar com ela, (e talvez, até, conseguir a sua libertação) inicia uma perigosa investigação que o levará a contactar as personalidades mais sombrias, e a descobrir uma conspiração que envolve os mais altos cargos da cidade.
Lukan, a personagem principal, apresenta algumas ligeiras incoerências, oscilando entre o questionável e o heróico. Ora lida com ladrões e figuras obscuras e revela baixos padrões éticos, ora se torna honrado e age de forma correcta para com os que o rodeiam. Ainda que existam muitas pessoas que podem não parecer coerentes quando observadas, Lukan parece simplesmente transparecer as companhias em que se encontra.
Independentemente do carácter, Lukan apresenta capacidades cómicas nos momentos mais stressantes. Aliás, as tiradas cómicas são usadas em qualquer situação de confronto ou desconforto, principalmente antes da interacção derrapar para a violência física. Estas tiradas, algumas sagazes e ligeiramente divertidas, caracterizam Lukan como uma personagem esperta e desinibida, ainda que, muitas vezes, aja de forma irreflectida.
A combinação de uma missão (a tentativa de descoberta de quem matou o pai) e o envolvimento numa conspiração, contribuem para conceder ao texto algum ritmo e tensão, ainda que estes nem sempre sejam bem transmitidos. Existem algumas coincidências constantes, e algum infodump, bem como alguns elementos repetidos e até, pequenas incoerências.
Estas componentes menos positivas (no limite do tolerável) vão melhorando com a progressão do livro. Lukan parece estabilizar, e o contexto fortalece-se, fazendo com que a leitura melhore ao longo da leitura do volume. Ou com a criação de algum envolvimento por parte da leitora, estas componentes foram sendo menos evidentes.
Outro dos aspectos difíceis de encaixar na coerência da leitura é a demasiada centralização numa só personagem que fazem com que Lukan, uma personagem sombria e sem competências muito relevantes (para além das habituais lutas de espada) consiga envolver-se na conspiração e ter, consecutivamente, um papel na descoberta dos detalhes mais importantes.
The Silverblood Promise destaca-se pela apresentação de muitos episódios de acção, entre confrontos, fugas, e lutas de espada, com elementos fantásticos curiosos (ou talvez de ficção científica, que parecem remeter para a existência de mundos paralelos) e a investigação de dois mistérios – o da conspiração em curso na cidade e, em paralelo, do assassinato do pai. Este volume não se tornou numa das minhas leituras favoritas (até porque este mês foi bastante forte), mas sou capaz de progredir para o segundo volume quando for lançado.
