Eis a nova grande série da Editora Asa! Contando, no original, já com 14 volumes (o mais recente que sairá em Janeiro na edição original), é nitidamente uma série de contornos fantásticos que tem levantado algumas questões no público português em torno do número de volumes – e se a editora deixa a série pela metade? Bem, no meu caso, o mais provável é continuar no original muito lentamente.

O ambiente na corte é tenso. O rei está nitidamente envelhecido, fragilizado e sem herdeiros directos masculinos. Indica desta forma o seu orgulhoso sobrinho, ainda que duvide das competências para o cargo. Nas sombras, outras teias tentam agarrar o trono, algumas bastante próximas do rei.

A série vai saltitando de forma competente entre as várias personagens – ora para apresentar um drama paralelo ao conflito principal, ora para apresentar outras perspectivas. Duas destas personagens são as filhas do Rei. Uma estará a viver um romance proibido. A outra tenda apoderar-se do poder, procurando antecedentes para a existência de uma rainha e estabelecendo alianças políticas.

Ao mesmo tempo, conhecemos vários príncipes e princesas, que, provindo de nações submissas ao Império, vivem numa prisão dourada. Entre a revolta de tal vivência e o assumir que até é uma vida confortável, também aqui surgem conflitos perigosos para os envolvidos. A história saltita ainda para a perspectiva de um possível aliado, focando-se na diferença entre aquilo que quer e aquilo que é o seu dever.

A história vai apresentando diálogos e interacções diversas, ao mesmo tempo que caracteriza de forma eficiente as personagens. Percebemos alguns detalhes culturais e políticos. Interiorizamos a existência de um tabu em relação ao cruzamento de diferentes animais e construímos a imagem de uma cidade movimentada e perigosa, onde co-existem várias classes.

Em termos visuais, a história começa de forma esplendorosa, ao nos mostrar a paisagem da cidade em página dupla. Prossegue, focando-se bastante nas personagens e nas suas interacções. As formas de animais conferem um distanciamento em relação à realidade, ao mesmo tempo que acrescentam características psicológicas. Os felinos são lutadores agressivos. Os répteis são venenosos, com tiradas irónicas e perniciosas.

Até agora, estes dois volumes apresentam um mundo fantástico com características que reconhecemos de várias outras narrativas. Reinos distantes de características semi medievais onde um Império possui uma capital mais refinada e politicamente complexa. O trono é cobiçado e o poder deve ser agarrado com força e táctica. Em termos de abordagem, também não é original, fornecendo perspectivas dos vários estratos sociais.

Diria que, de alguma forma, esta série não é exactamente muito original em tema, formato e concretização. Pelo menos nestes dois volumes. Mas, por isso mesmo, entrega uma série fantástica com o uso adequado dos clichés para ser familiar, com uma boa componente visual e decerto prosseguirei com a leitura.