Alguns anitos depois, eis que surge o segundo volume de Winepunk! E o que é o Winepunk? É o nome para uma antologia de ficção científica de realidade alternativa em Portugal! Nesta realidade ficcional a Monarquia do Norte teria persistido durante três anos, graças à utilização do Vinho do Porto. As histórias levam-nos para o início do século XX, mostrando como o percurso da história poderia ter sido alterado, com elementos de ficção especulativa.

Este Universo é desenvolvido pela Invicta Imaginária, um colectivo criativo português, existindo histórias que podem ser lidas gratuitamente em vários idiomas em HYP. A dificuldade da edição, neste caso, vai para além da usual abordagem narrativa, tendo a necessidade de garantir a coerência entre histórias, por forma a que cada uma seja um acréscimo ao Universo.

O segundo volume da antologia começa por se destacar no cuidado visual. Ainda antes de começarmos a ler percebemos que o livro possui várias imagens, mapas e efeitos que permitem destacar correspondência por carta, clarificar localizações ou ilustrar os acontecimentos.

Já os contos são diversos, quer em estilo, quer em abordagem. Começamos com um conto de A. M. Catarino, As Múltiplas Sombras do Poeta, que repete várias vezes, uma mesma altura do tempo, com ligeiras variações, mostrando como um determinado resultado é quase incontornável. É um exercício interessante de ler, que explora algumas nuances sociais da época.

O segundo conto, de Carlos Silva, Meu Querido Irmão, de contornos sobrenaturais e fantásticos, começa por se apresentar através de cartas trocadas entre dois irmãos, uma na capital que é chamada a servir na casa de alguém de relevância política, e o irmão, que pertence à facção oposta. O conto demonstra bem o papel decisivo do Vinho do Porto (e as suas diversas utilizações).

A Honra que Desce a Montanha de Filipe Cruz é um conto irónico que demonstra como um jovem de boas famílias, convencido da sua superioridade, se envolve na guerra. Acreditando nas suas competências superiores (não porque tenha alguma vez feito alguma coisa da vida) é levado a ter um papel no laboratório – mas bastante diferente daquela a que aspirou.

A história de João Ventura, No Douro nasce o Sol Republicano, centra-se numa figura já explorada pelo autor outras antologias – o Padre Himalaya, um cientista, inventor e pioneiro na utilização da energia solar e em energias renováveis. O conto explora como esta figura relevante, e as suas invenções, poderiam ter sido determinantes na definição de estratégias de guerra, usando os meios naturais que se encontram ao dispor.

Jorge Palinhos, em O Último Sarau de Lisboa, opta por um rumo sombrio, onde se contrasta o luxo de alguns (com saraus onde se cruzam as figuras mais influentes) e o resultado de uma guerra, onde os meios usados ultrapassam as normais armas. É um conto que começa com esplendor, apesar de haver uma nítida sombra que se aproxima, e que termina em desgraça.

Infâmia, de José Francisco, apresenta uma vertente habitualmente pouco explorada, nomeadamente os duelos. Neste caso, este ritual de cavalheiros parece estar associado a jogos de interesse, com resultados curiosos.

A história que fecha a antologia, Prepara-te para beber, é um caso mais policial, ambientado na época em que a antologia decorre, explorando várias classes sociais e as interacções amorosas, jogos políticos e tramas que vão ocorrendo, com resultados catastróficos para alguns. É uma história dinâmica, com investigação criminal.

A antologia destaca-se nitidamente pelo cuidado visual, com páginas que vão apresentando desenhos e esquemas que acompanham o texto. Existe uma introdução ao mundo, bem como uma cronologia final que ajuda a posicionar os textos e os acontecimentos. Os contos são todos bem cuidados do ponto de vista narrativo, com alguns mais emocionantes e outros mais interessantes pelas possibilidades que exploram. Em termos globais é uma antologia de qualidade acima da média – o que seria de esperar da maioria dos nomes já conhecidos do meio da ficção especulativa.