Um jovem, numa empresa informática altamente competitiva com nome de farmacêutica, encontra-se com a abadessa da Ordem das Compensadas para um encontro de negócios. Director recém promovido às custas de um trabalhador mais idoso, Cláudio desconhece como se dirigir à abadessa e quase arruína a troca comercial.
Com a sua nova posição em risco, Cláudio procura o homem que foi substituir para perceber um pouco melhor sobre a dinâmica do convento e a razão pela qual o produto produzido pelo convento é tão fulcral para os negócios.
Ao tentar amenizar o relacionamento com a Abadessa Cláudio investiga um pouco melhor as origens da ordem, afastando-se progressivamente da namorada, lindíssima mas de cabeça oca, e do mundo que conhece onde se vive no imediatismo e no falso.
Cláudio é um jovem do seu tempo, inculto e orientado para prioridades de vida vagas e efémeras, de beleza e dinheiro, mas com bom coração pelo que acaba por ganhar afeição à Abadessa, ainda que o seu primeiro interesse no mosteiro tenha sido a jovem Clara, a responsável pela criação das placas revolucionárias.
Em linguagem bastante composta com indicações dispersas que indicam tratar-se de uma época futura, Diálogo das Compensadas possui várias tiradas sarcásticas que ironizam a sociedade e as prioridades da vida actual:
E em o tempo da União, sabemos nós, por dizeres de autores sem conto e por televisivos exemplos de publicidades várias e mui numerosos programas que os mostrava em grã crueza, os quais programas se faziam dos dois lados do Mar Atlântico, que aqueles actos, não amorosos e antes carnais, eram tidos como cousa chã e boa e podiam mesmamente ser cometidos em público sendo única condição que o fossem ante uma televisiva câmara para que todos pudessem ter seu gáudio
Interessante e envolvente, Diálogo das compensadas surpreende não só pela temática com a crítica social, mas pela forma como expõe a história num tom pausado e linguagem bastante composta que contrasta com os coloquialismos das falas de Cláudio.
Este livro, «Diálogo das Compensadas», havia sido um dos dois que coloquei em destaque num texto que escrevi e publiquei no Simetria com o título «João Aguiar, escritor de FC» em Junho de 2010, pouco tempo depois de ele falecer…
https://blog.simetria.org/joao-aguiar-escritor-de-fc/
… Mas já antes, em 2008, através da sua participação, a meu convite, na antologia colectiva de contos de história alternativa «A República Nunca Existiu!», ficara demonstrado mais uma vez o seu talento para o fantástico.
Já agora, uma nota sobre o excerto do livro referido, e em especial a passagem «não amorosos e antes canais»… não será antes «carnais»? 😉