Claire North é o nome pelo qual Catherine Webb assina alguns dos seus livros, sendo As primeira quinze vidas de Harry August o mais conhecido por ter vencido o prémio John Campbell Memorial Award e por ter sido nomeado para o BSFA e o Arthur C. Clarke. Já este, A Súbita aparição de Hope Arden, foi nomeado para o World Fantasy Award.

A premissa é interessante – uma jovem é sempre esquecida após poucos segundos de se ter falado com ela. A uma certa idade os pais esquecem-se que têm aquela filha, os amigos já não se recordam de terem brincado com ela, os inimigos esquecem-se do murro que acabou de lhes dar.

Questionada sobre o que faz naquela casa, Hope deixa o lar quando se apercebe do denso efeito que tem sobre todos e, com pesar, parte. A capacidade de ser rapidamente esquecida impede-a de ser contratada ou, até de efectuar pequenos biscates. Resta-lhe enveredar pelo mundo do crime e safar-se como ladra.

Apesar das particulares características de Hope, não são estas o ponto forte do livro, mas a existência de um aplicativo móvel denominado Perfection que induz os seus utilizadores a uma existência perfeita – o corte de cabelo perfeito, as companhias perfeitas, as roupas perfeitas. Cada vez que se segue uma dica ganham-se pontos e com o acumular dos pontos ganham-se novas vantagens.

Claro que este aplicativo é de uso limitado para os mais pobres, sendo os ricos que usufruem na totalidade das vantagens, apresentando uma aparência e uma mentalidade cada vez mais estandardizada. O programa não só indica o que comer e o que vestir, como o que pensar. Sob indicações expressas sobre como agir e tratamentos específicos, o aplicativo anula quaisquer diferenças de personalidade para criar mais um ser humano perfeito… perfeito para as campanhas de marketing.

Hope apercebe-se do potencial deste aplicativo quando uma pessoa que conhece (mas que, por sua vez, não a reconhece a cada novo encontro) e que estima, se suicida. Inteligente e bonita, não nutre suficiente amor-próprio nem para resistir ao assédio, nem para seguir as indicações e acaba por colapsar.

Em A Súbita Aparição de Hope Arden a acção é centrada numa única personagem, uma rapariga com características peculiares que, por essa razão, tem uma vida movimentada, quase sem passar duas noites seguidas no mesmo local. Esta vivência transforma-a na pessoa perfeita para se esgueirar como uma espia treinada naquela que é a maior operação de manipulação de todos os tempos.

Ainda mais interessante do que é Hope Arden é a crítica à sociedade actual do imediatismo, da construção de personalidades aparentemente perfeitas e bem sucedidas. Criticam-se os aplicativos que nos vigiam e controlam e nos fazem deixar de pensar, fazendo-nos crer que é para o nosso bem, mas tornando-nos mais um elemento a consumir na direcção pretendida. A perfeição é apenas aparente, uma capa vazia de conteúdo que tem apenas objectivos comerciais.

A súbita aparição de Hope Arden foi publicado em Portugal pela Saída de Emergência.