O conhecer ambos os autores de outras obras foi o factor decisivo para a aquisição. De Ricardo Barreiro foi publicado Parque Chas na colecção Novela Gráfica, e de Giménez é de realçar a participação na saga Metabarão. Com algumas semelhanças a Parque Chas, Ciudad centra-se numa cidade sem tempo, uma espécie de buraco negro onde vão parar habittantes de todos os tempos e lugares – imensa e diversa, uma cidade sem fim nem saída.

Depois de uma saída nocturna com a namorada, Jean separa-se saturado e resolve ir para casa a pé, sozinho. A meio do curto percurso encontra uma rua que desconhece existir no bairro onde vive. A partir daqui o caminho revela-se muito mais longo do que seria de esperar e é, com espanto que se vê alvo de metralhadoras na ruela em que está perdido. Salva-o uma mulher destemida, Karen

Tentando antecipar uma retaliação pela luta disputada anteirormente, a dupla constituída por Jean e Karen, parte num carro. Infelizmente, não partem a tempo. A partida é marcada por uma perseguição de desfecho violento em que Jean dispara, pela primeira vez, contra alguém. Escapam fisicamente ilesos mas encontram-se numa parecela desconhecida da cidade na qual deambulam sem encontra outras pessoas ou comida por longos dias.

A descoberta que os irá salvar é a de um supermercado enorme e automático, bem fornecido em todos os items de que poderiam necessitar. Desde comida a armas, tudo se encontra, reposto automaticamente por robots. Os problemas começam para ambos quando tentam sair do supermercado sem pagar – activam-se sistemas de defesa que decretam, logo, uma sentença pesada à dupla. Aqui são salvos por alguém que tenta, há muito, destruir o supermercado, mas sem sucesso. Tal como as fábricas de Philip K. Dick este supermercado recupera-se e mantém o funcionamento, mesmo sem clientes que desejem utilizá-lo, cumprindo o dever para o qual foi construído.

O restante caminho pela cidade vai ser feito de maravilhas e pesadelos de elementos fantásticos e de ficção científica, alternando eventos inexplicáveis com máquinas elaboradas. Encontram homens há muito perdidos que já perderam as esperanças de fugir da cidade e se deixam enrolar numa série de eventos cíclicos, e monstros dos clássicos de horror que aqui se tornam heróis. Dentro da grande cidade há cidades ordeiras de pessoas que cedem a liberdade a troco de uma comunidade e seitas caninais que recebem bem as futuras refeições.

Tal como Parque Chas, Ciudad apresenta uma cidade ficcional dentro da cidade real, uma cidade maior e mais complexa com múltiplas portas de entrada. Mas se em Parque Chas as deambulações na cidade alternativa são curtas, aqui prolongam-se pela eternidade, constituindo um local sem fim, repleto de absurdos monstruosos e locais ordeiros.

A cidade não é contínua, nem no espaço, nem no tempo, e a dupla experimenta o passado e o futuro, ambos traumatizantes, não percebendo as diferenças na duração da noite e do dia entre as diferentes partes da cidade. Se chove excessivamente numa parte da cidade causando uma inundação, no momento seguinte pode-se experimentar uma seca intensa que leva os viajantes a duvidar da sanidade. Cruzando outras ficções com esta narrativa (não só pela apresentação de monstros, como pelo surgir da figura Eternauta, e por referências indirectas a outras obras) Ciudad funde vários elementos para se transformar numa longa e rica viagem.
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