Depois de uma Space Opera futurista como Descender, de um comentário à perfeição dos super-heróis com Black Hammer, ou de trabalhos mais realistas de Jeff Lemire como Essex County ou Roughneck, eis que me deparo com a história apocalíptica e deprimente de Sweet Tooth que decorre no interior dos Estados Unidos da América ultra-religiosa e fechada sobre si mesma.

A humanidade encontra-se em declínio. Uma estranha praga vai atacando os humanos que não descobrem uma cura para este doença. Em paralelo, os humanos que nascem parecem cruzados com outros animais, possuindo focinhos de porco ou hastes de veado. Assim é o caso do rapaz, personagem principal, que o pai mantém isolado numa cabana no meio do bosque, avisando-o de que todos os homens são maus e perigosos.

Após o falecimento do pai, o rapaz aventura-se pelos bosques. Quase caçado como um animal, é salvo por um homem forte e destemido que o convence da existência de uma reserva para crianças como ele, onde estará protegido. Assim o leva, atravessando um país caótico, onde os humanos restantes sobrevivem pela malícia. Mas a reserva não é mais do que um forte onde um grupo de homens sobrevive, usando as crianças animais para tentarem perceber a origem da doença.

A partir daqui o autor explora as motivações do homem que levou o rapaz, mostrando como era a sua vida antes da praga e depois da praga – de apaixonado a sobrevivente, capaz de enfrentar os perigos e defender a esposa grávida, até ao dia em que caem numa emboscada.

Neste primeiro volume encontramos uma humanidade em declínio, um mundo apocalíptico em que todos procuram sobreviver da melhor forma, parasitando sempre que possível os que os rodeiam. Tal como noutras realidades deste género, existem os homens que, sendo mais fortes do que os restantes, conseguem liderar pelo medo, impondo práticas duvidosas.

Para quem gosta dos livros de Jeff Lemire, encontrará, neste, o mesmo género de caracterização de personagem. O homem é um homem duro e isolado que carrega mágoas passadas que levam a sobreviver. Por sua vez, o rapaz apresenta-se como inocente do mundo em que vive, sem a malícia típica que permitiriam que pudesse sobreviver sozinho.

Ainda assim, existem alguns, poucos, que tentam estabelecer alguma justiça, como o homem que encontra o rapaz. Homem duro, capaz de lutar e de fazer o que é preciso, tem várias atitutes ao longo da história que não se coadunam com a entrega do rapaz aos maus da fita – algo que Jeff Lemire justifica e que decerto gerará o motor narrativo do próximo volume.