O vencedor do prémio de António de Macedo (prémio organizado pela Editorial Divergência) do ano passado é um novo autor, Pedro Lucas Martins. O livro com que venceu o prémio, As sombras de Lázaro, é um livro de terror, de tom pausado, que recorda algumas obras mais clássicas pela forma como se desenvolve, sem pressas.
A história decorre na fronteira ténue entre a loucura e o sobrenatural, fornecendo detalhes suficientes de ambas as vertentes para nos deixar na dúvida ao longo de todo o romance, sobre a origem dos elementos que provocam a narrativa. Elementos estes que são desenvolvidos na medida certa – o suficiente para tornar a leitura inquietante, mas sem a exaustão que poderia deixar a narrativa insípida.
A narrativa decorre num espaço quase isolado. Lázaro encontra-se em casa, após dois anos de internamento psiquiátrico, para o Natal. Fisicamente exausto e debilitado, permanece na cama, receoso do retorno dos episódios que o levaram ao hospital, e atento aos novos quadros que se encontram naquele quarto que terão imagens pouco relaxantes.
Paralelamente, o filho, pequeno, pensa em estabelecer uma nova ligação com o pai, figura que, até aqui, tem sido distante, e a mulher oscila entre o alívio pelo retorno de Lázaro e a antecipação da perda de autonomia com o retorno da figura dominante. Por sua vez, a governante cumpre o seu papel, mantendo-se distante do patrão que conhece desde pequeno mas pelo qual nunca sentiu grande empatia.
A acção oscila entre o tempo presente, com Lázaro numa cama, e episódios passados que explicam as interacções entre as diferentes personagens. Lázaro teve um relacionamento difícil com os pais (sobretudo com a rigidez paterna) e cedo deixou a casa dos progenitores, regressando apenas após a morte de ambos, com a esposa. Para além disso, Lázaro recordará um episódio quase enterrado de algo que o terá marcado psicologicamente.
Esta combinação de características torna As Sombras de Lázaro numa surpresa muito positiva. Surpresa porque se tratando da primeira obra do autor não esperava uma obra de narratva pouco linear, de acção tão balanceada e que, ao tocar num género que facilmente pode resvalar, tivesse um tom tão clássico.