A Seita, a nova editora de banda desenhada em Portugal abre com dois volumes de Bonelli, sendo um deles de Dylan Dog. Esta figura, bem conhecida do público italiano, era praticamente desconhecida em Portugal, até há pouco tempo. Pelo menos, pouco se encontrava de Bonelli em Portugal a não ser Tex.

Este volume de Dylan Dog traz-nos um herói mais sério, numa história ainda mais negra do que é habitual. Se, noutros volumes, a personagem oscila entre a realidade e o sobrenatural, explorando mundos fantásticos, perseguindo fantasmas e envolvendo-se com belas donzelas, neste Dylan Dog também se fascina, mas os contornos são mais pesados do que é habitual.
A história começa com um curto episódio que decorre no Castelo de Warburgh, em que duas jovens são apanhadas a roubar dinheiro de um cofre. As consequências não nos são mostradas nesta fase. A narrativa prossegue então com Dylan Dog a ficar impedido de circular com o carro pela polícia. É este ponto que o leva a deslocar-se a pé pela cidade e, consequentemente, a visitar a inauguração de uma exposição de BDSM.

Depois de reconhecido pela fotógrafa, a autora da exposição, Dylan deambula entre as obras vislumbrando uma personagem fugidia. É este curto encontro que o leva a sonhar com um espectáculo de BDSM, iniciando-se uma sucessão de episódios em que Dylan procura a jovem misteriosa.
A investigação de Dylan Dog levá-o a explorar as diferenças de classes, mais especificamente os “whipping boys”. Estes seriam rapazes educados ao lado de um príncipe, sobre os quais se aplicavam os castigos dirigidos aos príncipes. Actualmente desconhece-se se o conceito chegou a ser uma realidade, ainda que existam referências, sobretudo associados à realeza.

Associando os castigos corporais infligidos na infância ao BDSM, Trevas Profundas prossegue explorando alguns relacionamentos entre dominadores e submissos (ou submissas, neste caso), e mostrando algumas dinâmicas possíveis.
Para além do foco no BDSM, a investigação decorre com as usuais referências sobrenaturais, recorrendo a sonhos, aparições e outros elementos mais comuns na narrativa de Dylan Dog.

Visualmente, trata-se de um volume marcante, onde os desenhos estão carregados de sombras, e o fundo de vários quadrados é negro e pesado. Estas sombras são usadas para realçar algumas expressões e elementos da história, permitindo um maior foco nalguns aspectos narrativos.
Este visual sombrio ajuda a marcar o tom, acompanhando a narrativa que é um género de descida ao submundo. Apesar do confronto com práticas que desconhece, Dylan deixa-se guiar pelas pistas sobrenaturais para desvendar um caso pouco usual.

Em Trevas Profundas a história é ainda mais negra do que é habitual, contendo elementos fantásticos na forma como Dylan comunica com algumas pessoas. É uma viagem forte carregada de sadismo que possui algumas reviravoltas finais. Este volume foi publicado em Portugal pela nova editora de banda desenhada, A Seita.