Enquanto não chega o volume 2, eis que tive oportunidade de pegar no 3. Este é dedicado à América do Sul e vai apresentando várias histórias com índios e sobre índios – aventuras mitológicas, fantásticas ou mais terra-a-terra, mas todas elas fabulosamente desenhadas.

Este volume começa com uma história em torno dos conquistadores europeus, do ponto de vista de uma tribo que tenta resistir, chamando os favores dos seus deuses e sacrificando algumas pessoas importantes na tribo. A história apresenta uma solução curiosa que resulta num espírito conformado.

Mais longa, a segunda traz, também, os deuses das civilizações americanas, mas numa época diferente, pós conquista do território, entrelaçando crenças cristãs e pagãs numa história que tem uns toques de horror.

Já a terceira decorre numa época recente, apresentando dois irmãos que deambulam pelas montanhas. Se um deles pretende regressar a casa o mais depressa possível, o segundo insiste na visão de um avião que se terá despenhado e fará de tudo para ficar com tal avião. Ao invés de deuses, este conto alude ao sobrenatural, deixando no ar um tom de loucura.

Estas três primeiras histórias apresentam-se a preto e branco, mostrando a fabulosa capacidade de Toppi em tecer texturas, volumes e profundidade, usando apenas diferentes padrões, sempre a traço preto. O resultado é fabuloso e é uma das principais razões para que continue a adquirir o trabalho de Toppi – não que a narrativa seja má, longe disso, mas o desenho é espectacular!

A próxima história, a primeira a cores, mostra como um homem é desviado do seu destino de vaguear pobre entre os montes para cruzar o mundo em busca de uma fortuna e de muitas aventuras. O resultado é uma história curiosa, que apresenta alguns elementos fantásticos mais ocidentais, ao começar em Espanha.

O próximo conto não é menos curioso, mostrando como os homens enveredam por montanhas inóspitas, habitadas por tribos hostis, em busca de míticos tesouros sob a forma de cidades de ouro. Neste caso, a história centra-se num ex-soldado atirado para a pobreza, que se vê aliciado por um mapa e a promessa de uma fortuna.

Este conjunto de histórias cruza elementos fantásticos de várias mitologias e civilizações, deixando alguma estranheza no ar. À semelhança de outras histórias do autor, estas não possuem propriamente uma moral, ou um seguimento conhecimento, parecendo quebrar alguns clichés. A combinação de elementos e a forma como desenha ajudam a criar a sensação de alienação da ordem natural das coisas.

Tal como outros volumes, este destaca-se pelo desenho do autor. E se as imagens a preto e branco são peculiares, as imagens a cores não são menos belas (ainda que mais “comuns”), apresentando poucos padrões a preto, mas um bom jogo de sombras e profundidade.

O resultado é uma leitura que muito aconselho, tanto a quem goste de histórias que envolvam mitologias ou fantasias, como a quem goste de observar belíssimas gravuras.