No seguimento de uma promoção na FNAC, adquiri e li este volume sem saber que se tratava de uma série no seguimento de uma outra – The Valiant. Ainda assim, não precisei de enquadramento adicional. A premissa apanha-se rapidamente – a narrativa apresenta uma boa velocidade, com vários momentos de acção, e uma urgência necessária (e bem gerida pelo autor) que nos ajuda a criar empatia para com a personagem.

Ray Garrison deixa um passado violento. Rapidamente percebemos que se trata de um ex-militar (ou semelhante). Alguém com poderes derivados de uma experiência que se acalmou com o nascimento da filha. Encontramos a família em pico de crise familiar. Por um lado, a bebé está com febre. Por outro, Ray ouve um telefonema suspeito da esposa, Magic.

Atiçado pelo tom do telefonema, descobre que Magic tem um pai – o chefe de um culto religioso, numa terrinha esquecida no meio do nada! Este homem, velhote, acredita ser o próximo Messias – o salvador que enfrenta todos os demónios e que converte os que o rodeiam a uma obediência cega.

Ray decide-se a acabar, de uma vez, com a ameaçada que assombra a vida da esposa. Sem armas (dado que, com os poderes, o seu próprio corpo é uma arma) desloca-se à terriola com o objectivo de enfrentar e terminar com os telefonemas ameaçadores. Nada corre conforme o esperado – nem para Ray, nem para Magic que se vê a braços sozinha com uma criança cada vez mais febril.

Apesar da premissa familiar, estamos perante um volume bastante violento. O livro abre com um episódio protagonizado pela filha de Ray, uma criança que possui as mesmas capacidades de transformação que o pai. Comparando este primeiro episódio com os que se sucedem, percebemos existirem grandes diferenças narrativas e visuais.

Este primeiro episódio apresenta maior concentração de acção, imagens mais sólidas e de menos destaque cromático. Os episódios que se seguem são mais pausados (também mais familiares) num estilo mais lustroso, mais brilhante e muito mais focado nas expressões.

Esta alternância de tom reflecte linhas temporais diferentes, numa narrativa que se desenvolve a dois tempos, mostrando os acontecimentos mais recentes (e carregados de violência) enquanto desenvolve em paralelo a base familiar da história.

É exactamente esta alternância que permite captar a empatia do leitor, bem como evitar a dessensibilização pela violência. Apesar de todo o sangue das primeiras páginas, a história consegue criar uma forte ligação e manter o interesse.

Não é, a meu ver, a melhor história de Jeff Lemire. Aqui destaca-se pela maior acção e violência, em cenários pseudo-militares que não lhe reconheço de outras leituras. Mas se retirar a expectativa que tenho associada ao nome do autor, é uma boa leitura – movimentada, de premissa relativamente simples e capaz de criar e manter o interesse do leitor. O suficiente para me ter interessado pela restante série (tanto os que antecedem, como os que sucedem).