O sexto e último volume de Descender tinha deixado a porta aberta para uma continuação – e eis que esta aparece sob a forma de uma nova série, Ascender. A história de Descender tinha começado com uma espécie de Rise of the Machines, uma revolta das inteligências artificiais que recorda outras narrativas de ficção como Battlestar Galatica. O foco num andróide que se parece com uma criança inocente remete-nos facilmente para um I.A. (o filme) – uma espécie de reconstrução do pinóquio.

Ascender começa com uma poderosa feiticeira, ou bruxa que tenta exterminar toda a tecnologia, ora centrando-se nela, ora nos humanos que irão resistir à regressão científica da humanidade. De forma muito simplista, em Descender a humanidade desce às trevas, em Ascender deverá percorrer o caminho oposto, ascendendo a partir de uma galáxia governada pela magia negra.

Uma década após dos acontecimentos retratados em Descender, encontramos uma criança que tenta negociar ilegalmente num mercado e que, por pouco, não acaba presa ou em trabalhos forçados. Esta criança, filha de Andy e Effie é selvagem e irreverente – características que o pai tenta gerir sem grande sucesso.

Um acontecimento quebra o quotidiano familiar numa clara distopia religiosa: um robot encontra Andy, comportando-se como um velho amigo. Trata-se, na verdade, do antigo cão electrónica que acompanhava Tim. A alegria do encontro é breve. Uma patrulha seguiu o robot (que serviu como isco) e Andy e a filha, Mila, vêem-se obrigados a fugir de casa em busca de uma nave que os leve do planeta.

Em termos visuais, este volume é muito semelhante à anterior série Descender, com desenhos que nem sempre são espectaculares quando observados de forma isolada, mas que ganham intensidade e força aquando da leitura.

De início mais lento que a série anterior, Jeff Lemire conta o que aconteceu durante o período de dez anos que separa as duas séries através de flashbacks e pequenas pistas nos diálogos. Esta demonstração leva a uma menor quantidade de episódios de acção, mas cumpre o objectivo – informar e levar o leitor a sentir empatia para com as personagens principais (algo comum nas obras deste narrador), e repulsa para com os maus.

Ainda que possua muitas semelhanças com Descender, a premissa afasta-se o suficiente da série original para poder ter a sua própria voz e criar uma nova relação com o leitor. Ascender torna-se uma série de leitura obrigatória para quem gosta de Jeff Lemire, ou para quem gosta de ficção científica no sub-género Space Opera.